"Aumentar despesas com segurança e defesa é tão inevitável como pagar o envelhecimento da sociedade”
01-04-2016 - 23:58

Para Santana Lopes, antigo primeiro-ministro, é preciso assegurar uma verdadeira política europeia de segurança e defesa. Por seu lado, António Vitorino admite que a incapacidade das respostas antiterrorismo está ligada a cortes orçamentais nestas áreas de soberania.

Pedro Santana Lopes diz que a Europa não pode esperar mais para se definir como uma união de países que partilham uma política de segurança e defesa. No rescaldo dos atentados de Bruxelas, quatro meses depois dos acontecimentos de Paris, o antigo primeiro-ministro diz que chegou o tempo em que todos os responsáveis políticos europeus vão ter que tomar decisões firmes.

“Estamos ou não dispostos a voltar atrás com muito do que dissemos sobre os gastos na defesa e na segurança? Vamos fazer isto concertadamente a nível europeu ou não? Queremos a política comum de defesa ou não? Os gastos e o investimento que vai ser preciso, em defesa e em segurança, por parte da generalidade dos estados vai ter que aumentar. É uma realidade tão inevitável como a do envelhecimento das sociedades e das despesas que vai ser necessário assumir para fazer face a essa realidade”, afirma.

Embora descarte o conceito de uma “guerra ao terrorismo”, Santana insiste num trabalho conjunto ao nível da segurança interna e das polícias: “Não consigo conceber a existência de uma União Europeia, com o que isso implica de abdicação de soberania dos estados, sem uma vertente de política de defesa comum. Ou há União Europeia, e temos que dar passos no sentido da defesa comum, ou não existe nada”, afirma o ex-primeiro-ministro.

Cortes orçamentais debilitaram frente antiterrorista

António Vitorino admite que a falha nas respostas ao terrorismo pode estar ligada à austeridade: “Há um dado que sabemos ser verdade. Quando se fazem cortes orçamentais, as primeiras áreas a serem cortadas são as áreas de soberania, a defesa e a segurança. Temos que pôr a mão na consciência e perguntarmo-nos se não somos todos também co-responsáveis por alguma incapacidade na resposta”, sustenta o antigo comissário europeu com a pasta da Justiça.

O comentador reconhece que houve falhas de segurança que contribuíram para os atentados de Bruxelas, incluindo nos “canais não oleados” de transmissão de informação sensível dos Estados Unidos para serviços europeus, a propósito de indivíduos suspeitos de ligações a grupos terroristas.

“Estes atentados ocorrem num momento em que havia sinais de uma melhoria da troca de informações. Pode dizer-se agora que ela não era ainda suficiente”, insiste Vitorino, para quem os atentados que merecem o lamento de todos devem servir também para aprender mais sobre o inimigo que a Europa combate.

O antigo comissário constata que os ataques de Bruxelas permitiram identificar "ramificações muito mais vastas e complexas do que os serviços de segurança avaliavam até aqui”. Nessa medida, estes atentados " não podem ser desperdiçados. É preciso que o manancial de informação que esta investigação desencadeada pelos atentados de Bruxelas está a fornecer às forças e serviços de segurança seja rapidamente utilizada para prevenir. A única solução para combater o terrorismo é prevenir”.

Santana Lopes não deixa contudo de estranhar a incapacidade de seguir o movimento de alguns dos autores dos atentados de Bruxelas: “Por muito que a policia e os serviços de informações não possam estar em todo o lado, há aqui núcleos, nomeadamente esta célula identificada em Bruxelas e que estava relacionada com Paris, que é muito estranho como é que não há uma maior eficácia a seguir os movimentos destas pessoas que já se sabe que estiveram na Síria e no Iraque. Já não falo dos que estão referenciados pela Turquia ou pelos Estados Unidos ou por outros países e em relação aos quais não se deu atenção”, remata o antigo Primeiro-ministro.

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