A Renascença entrevistou Ana Bispo Ramires, psicóloga do desporto, neste 10 de outubro, o dia internacional da saúde mental. E esta especialista não tem dúvidas: um atleta com maior ansiedade tem três vezes mais hipóteses de se lesionar e, por isso, deve ser mais apoiado.
Mais: os ‘top performers’ conseguem disfarçar os problemas mantendo resultados, o que dificulta que o seu entorno os possa ajudar em momentos de crise. Entretanto, outra prioridade, seria ajudar os pais dos jovens atletas para que baixem a pressão sobre os filhos.
Recentemente, Jurgen Klopp decidiu fazer “ano sabático” após vários anos de intenso trabalho e sucesso [entrevista aconteceu antes do regresso ao ativo do alemão]. O que é que isto nos diz sobre o desporto atual e a pressão a que estas pessoas estão sujeitas?
Muito curiosa a pergunta porque, na realidade, o que acontece é que os temas sobre a saúde mental começaram a ganhar expressão e a ganhar visibilidade através do discurso dos atletas. Quando estamos a falar de pessoas que estão em contexto de pressão elevado há um desgaste energético muito maior, portanto, há uma predisposição para o burnout maior. Tem-se falado muito na questão dos níveis de stress e de pressão que acontecem naquilo que são os exercícios dos atletas, mas muito pouco naquilo que é a ação dos treinadores.
Curiosamente, aquilo que a investigação científica nos diz é que eles [os treinadores] têm valores de disfunção em termos de saúde mental bastante evidenciada e, curiosamente, alavancam o seu próprio bem-estar relacionado com o bem-estar dos atletas. Ou seja, tenho de garantir que eles estão bem e, se o conseguir garantir, os meus dados de bem-estar e saúde mental elevam.
Certo.
Agora, quando estamos X anos num contexto em que a pressão é elevadíssimo, nomeadamente no contexto do futebol, em que eles são avaliados todas as semanas, e o nível de exigência é elevadíssimo, o escrutínio é elevadíssimo e numa modalidade em que se passa de bestial a besta em dois, três fins de semana, obviamente que a probabilidade das pessoas entrarem em exaustão energética, com probabilidade de desenvolverem quadros de ansiedade crónica, de burnout, é elevadíssima.
Cada vez há mais jogos e mais casos conhecidos de desportistas com problemas de saúde mental.
Já se discutem as consequências fisiológicas dos calendários apertados e do número de jogos por causa das questões das lesões físicas, mas, por falta de literacia em saúde mental, não se discute ainda – e devia discutir-se – também a possibilidade de lesões emocionais e de esgotamento. O que é curioso em nós é que o nosso corpo anda a par da nossa componente emocional. Se nós estamos bem, o nosso corpo reage a mais comportamentos pró-saúde. Se nós estamos menos bem, temos um ambiente interno propício a termos mais questões fisiológicas, seja de doença, seja a predisposição para a lesão.
Diz-nos a investigação científica que um atleta com traços de ansiedade mais elevados tem três vezes mais hipóteses de se lesionar e, portanto, é querermos continuar a compartimentar os atletas – as pessoas na generalidade – numa dimensão que é a física, quando a física está extraordinariamente intrincada com a psico-emocional. Há um risco associado a esse volume intensíssimo de jogos e o tempo entre jogos para recuperar da descompressão emocional que existe é pouquíssimo.
Será caso para dizer que o desporto faz mal à saúde?
A evidência científica diz-nos que não há diferenças entre as pessoas normais e os atletas que fazem desporto de alta competição. Contudo, quanto mais elevado é o nível de exigência, quanto mais alto é o contexto de alto rendimento onde ele está, mais solicitações têm para desgaste energético psico-fisiológico. Se não o sabem repor, haverá necessariamente maior predisposição para haver fenómenos de natureza emocional que comprometem a performance e a qualidade de vida.
Agora, à partida, se comparamos atletas com cidadãos, não há uma diferenciação. Há, no entanto, modalidades específicas que estão associadas a algumas patologias, como é o caso das modalidades de lutas, combates e ginástica, com as questões da perturbação alimentar, porque há a questão do peso, o que pode desorganizar o corpo todo.
Pelo menos no futebol, os pais fazem grande pressão sobre os miúdos para terem sucesso. Todos esperam que os filhos sejam “Cristianos Ronaldos” e provavelmente alguns desses miúdos só está ali para se divertir e não para ser jogador de futebol…
Os pais querem que os filhos sejam os melhores, seja na escola, seja no futebol, seja onde for. A nossa sociedade está demasiado focada no agora. Em vez de prepararmos o adulto que queremos, estamos a querer fazer a colheita já, mas a colheita em miúdos só se faz 20 anos depois. Se há coisa mais parecida com o desenvolvimento de um jovem é provavelmente o desporto olímpico, que demora entre 12 a 16 anos para fabricar um atleta.
No futebol, se eu começo a sobrecarregar um atleta com pressão, fazendo com que ele perca esse lado lúdico, obviamente que vou estar a comprometer aquilo que possa ser a sua permanência e a sua capacidade de experimentar estados de entusiasmo quando joga. E se nós pensarmos que o que precisamos é de atletas entusiasmados pelas suas práticas para terem as melhores práticas possíveis, não lhes estamos a dar condições para isso.
Hmm, hmm.
E, portanto, isso acaba por ser um tema importante. Voltamos às questões da literacia emocional: não há formação de pais. Porque temos de exigir aos pais que se comportem da forma A, B ou C se ninguém lhes diz que forma é essa. É para eles adivinharem? Isto não faz sentido nenhum. Temos de dar informação às famílias, é um passo que temos de dar em Portugal.
Muitos desses pais precisariam de um acompanhamento.
Nós nunca vamos conseguir acompanhar os pais um a um porque não temos especialistas que cheguem para isso, mas, se encontrarmos canais para disseminar informação, posso informar os pais daquilo que são os comportamentos desejados.
Para além de jogadores e treinadores, também os árbitros sofrem muitas pressões, provavelmente ainda mais. São o habitual bode expiatório das derrotas. Imagino que os árbitros profissionais tenham algum acompanhamento, mas o que acontece com os outros?
Os árbitros são os eternos esquecidos. Infelizmente, em muitas áreas continuamos a vivenciar a questão da ‘lei de Darwin’, que é sobrevivem os mais fortes, o que não quer dizer que o mais forte que sobreviva não vá com uma perna partida, ou seja, do ponto de vista do impacto que essa pressão tem nele não tenha depois consequências do ponto de vista da sua performance da sua saúde mental.
Temos aqui dois temas. Primeiro, temos que entender os árbitros como atletas de excelência, que o devem ser, e deveriam ter todos os recursos disponíveis como um atleta tem, até porque o contexto em que competem é um contexto onde têm sempre dois adversários. É sempre um contexto mais hostil para um árbitro do que para um jogador ou uma equipa. Sim, beneficiariam sobejamente desse tipo de trabalho.
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Segundo: nos clubes, os atletas devem começar a ser educados para o papel do árbitro. O árbitro está ali para colaborar com o jogo, não está para prejudicar o jogo. Obviamente que vamos ter sempre o ruído de poder haver algum tipo de influência em alguns contextos ou competições, mas, na realidade, se nós quisermos falar de manipulação de jogos, hoje em dia já se ouve falar disso em juvenis e iniciados com esquemas de apostas pelo mundo inteiro. Portanto, o primeiro passo será educar os jovens, os pais, os treinadores para o papel do árbitro como aliado e não como um alvo a abater.
Certo.
Até porque, se eu dou preponderância ao que o árbitro está a fazer bem ou mal, estou a desfocar o meu atleta daquilo que é o seu comportamento e daquilo que ele, de facto, pode fazer para melhorar. Se eu começo a discutir aquilo que o árbitro está a fazer, eu própria vou cometer mais erros. O árbitro deve ser encarado como uma figura inequívoca que faz parte do jogo, sem a qual não há jogo. E tem direito a errar como nós temos direito a errar. E isto é, de facto, uma mensagem que tem de passar o mais rapidamente possível para dentro das organizações.
Nós estamos sempre a falar de competências de vida e, portanto, se estamos a permitir que um jovem discuta com a arbitragem, estamos a permitir que ele discuta com o professor, com o empregador, que ele discuta com toda a gente que tenha uma posição hierárquica sobre ele.
Cada caso é um caso, imagino, mas os árbitros que chegam até si têm problemas diferentes de um avançado ou de um guarda-redes?
Sim, garantidamente, até pela posição no campo. Eu treino competências, não resolvo problemas. Eu antecipo problemas, resolvendo competências. Um guarda-redes tem que ter características de personalidade específicas. Vou dar-lhe um exemplo que é público: eu acompanhei o Rui Patrício durante uma série de anos. Uma das coisas que foi trabalhada foi parar aquele meio segundo a mais nas grandes penalidades, ou seja, ter a capacidade de permanecer para depois resolver. Em nenhuma outra posição de campo se faz isto.
Hmm, hmm.
Portanto, nós temos de avaliar as características do sujeito, avaliar a modalidade onde ele está inserido, avaliar a zona geográfica onde está – competir no norte é diferente de competir no sul; a afluência nos pavilhões, nas modalidades dos miúdos, é muito maior e muito mais apaixonada, em exagero em algumas circunstâncias. Temos de aprender a regular o botão.
Muitas vezes, em termos de empresas, nas empresas do norte temos de puxar o botãozinho um bocadinho para baixo e nas empresas do sul temos de puxá-lo para cima. Temos de perceber onde é que a pessoa se insere, o que lhe é pedido na sua função, a que é que tem de dar resposta, o que já consegue fazer e o que ela tem de começar a fazer melhor. Portanto, cada caso é um caso.
Há uns anos, a situação de Robert Enke, um guarda-redes alemão que jogou em Benfica e Barcelona, chocou o mundo do futebol. Estava a fazer uma boa carreira, tinha chegado à seleção, aparentemente sem problemas familiares e, afinal, haveria todo um iceberg de problemas que o levou mesmo ao suicídio.
Esse é normalmente o problema dos ‘top performers’. Enquanto um cidadão não está bem, tende a quebrar o rendimento, o problema dos ‘top performers’ é que, mesmo estando mal, conseguem manter o rendimento. E isto faz com que o meio, muitas vezes, detecte tardiamente que as pessoas não estão bem. Este é um problema de literacia em saúde mental, que é nós sabermos reconhecer os sinais de que não estamos bem ou que o outro não está bem.
A pessoa parece que está bem, porque tem uma carreira, está a competir bem, está a introduzir resultados, parece contente. Eles próprios vão para um sítio de “tenho uma vida que mais ninguém tem, tenho dinheiro, tenho casas, tenho carros, não me posso queixar” e, portanto, quando dão pelo sítio onde estão já estão num nível de desesperança gigante.
Certo.
É muito importante trabalhar lá atrás, dando competências. Uma das recomendações do Comité Olímpico Internacional é trabalhar com o contexto do atleta e não com o atleta, dotar com o maior número de ferramentas na área da saúde mental para que possam precocemente identificar o que está a acontecer com os atletas.
Quais são os sinais de alerta que o atleta revela? A que devem estar atentas as pessoas mais próximas?Há coisas que são observáveis ou avaliáveis como comportamentos de risco. Tudo o que sejam alterações no comportamento normal da pessoa. O sono é um dos fatores de risco maior, ou seja, as pessoas não dormirem sete ou oito horas por noite de sono reparador. Posso não ver a consequência aqui, mas a consequência acontece-me lá à frente. O sono é um dos principais pilares, ancorado com tudo o que seja doença psico-fisiológica e não é levado a sério em lado nenhum.
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A questão dos padrões alimentares também, quando muito vê-se os nutricionistas a trabalhar com atletas, não trabalham com o staff e não percebo porquê. Há cada vez mais estudos que ligam aquilo que nós ingerimos com estados alterados emocionais, em termos cognitivos, de capacidade de foco. Há estudos recentes que nos dizem que os miúdos com hiperatividade, se fizerem suplementação com ómega-3, podem ter efeitos positivos, mas nós somos uma cultura que vai logo para a medicação.
Hmm.
Se eles estiverem bem nutridos, com qualidade de sono e com bons indicadores de atividade física, estamos logo a garantir que as pessoas estejam com uma base boa para terem a sua saúde mental protegida. Enquanto um atleta sabe que, se quer aumentar o músculo, faz hipertrofia, do ponto de vista das competências psico-emocionais ninguém faz ideia o que tem de fazer porque não encara a área da psicologia como área de treino, que o é.
Não sei se há dados oficiais, mas dá conta de haver mais baixas entre desportistas à medida que se aproximam grandes competições?
Não, porque os atletas são muito virados para a performance. Isto na elite da elite. Obviamente que há toda uma massa gigante de atletas que, tendo a capacidade fisiológica e desportiva para estar lá, não está por ausência de competência psico-emocional porque não consegue naquele sítio produzir o seu melhor desempenho.
Os brasileiros têm uma expressão engraçada que é ‘leão no treino, gatinho na competição’, pessoas que treinam extraordinariamente bem, batem marcas no treino, mas chegam à competição e não conseguem fazê-lo e isto tem a ver com uma desadaptação e com uma incapacidade de regulação emocional que faz com que entrem na competição super contraturados, super tensos e, portanto, nunca vão conseguir produzir o melhor de si.
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Há um fenómeno um bocadinho parecido que é em contexto de Jogos Olímpicos. É muito frequente os atletas, mesmo ganhando, não baterem as marcas de qualificação ou a melhor marca e o efeito é um bocadinho o mesmo. Porquê? Por que há toda uma envolvência, há a noção de que os Jogos Olímpicos são só de quatro em quatro anos, sendo que muitos atletas têm a validação de apoios para a continuação da sua carreira ali, é um dos marcos maiores ali. Se ficarem em X classificação, mantêm os apoios a seguir, se não, não mantêm.
Para além do resultado desportivo, acresce uma necessidade de sobrevivência que, em atletas não preparados, pode resultar em rendimentos de que não se está à espera. A pergunta que fica no ar é quantos cidadãos na sociedade civil vivem isto? Tive a felicidade de estar em Tóquio a acompanhar a missão olímpica e ao fim da primeira semana não havia resultado nenhum, de medalhas, e em Portugal já se começava a ficar inquieto que não havia medalhas e fizemos o melhor resultado de sempre em termos de medalhas e diplomas.
Hmm, hmm
Há esta urgência em Portugal, esta falta de carinho, que também existe dos portugueses em direção aos nossos atletas, que deviam ser mais apoiados independentemente dos resultados alcançados porque, de facto, eles dão tudo para representar Portugal. E nós vemos aqueles cinco segundos e dizemos “pá, aquele gajo não faz nada” e isto é complicado.
Escrevi para o Expresso um texto engraçado, que se chama ‘A paixão também mata’, por causa dos CEO das empresas, que é outra população de que ninguém fala dela porque “têm dinheiro, têm bons ordenados, eles que se orientem”, mas que sofrem um bocadinho do mesmo tipo de fenómeno que os atletas, que é a paixão por aquilo que fazem.
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Quando alguém é verdadeiramente apaixonado, um CEO, um músico, um bailarino, um atleta, quem quer que seja apaixonado por aquilo que faz, tem muito mais dificuldade em travar-se mesmo quando está em dificuldade. E este é que é o problema que temos com os atletas. Muitas vezes é o entorno que tem de saber travá-los antes que eles descarrilem, porque os indicadores que eles dão é que estão bem. Se nós próprios, o staff que está à volta, estamos tão felizes a fazer aquilo que nem sequer nos apercebemos que temos de viver aquilo pelos atletas e não por nós, não conseguimos ter o distanciamento para dar este tipo de corte. Por esta mesma razão, há uma investigação muito engraçada que nos diz que uma das principais fontes de pressão que os atletas identificam nos grandes palcos, nomeadamente nos Jogos Olímpicos, é o staff.
Isto é, eles estão preparados, eles querem fazer e depois têm a malta à volta a dizer “boa, vai correr muito bem, força” e eles só querem estar quietos, focados. A pressão positiva é tramada. Se há alguém que lhe diz “tu és ótimo, vai correr bem, espetacular”, a única probabilidade que temos é dececionar aquela pessoa. Se forem pessoas que nos acompanharam e ajudaram durante quatro anos, naquele momento em particular vou sentir-me esmagado para não dececionar a pessoa.
Normalmente, antes dos JO há um contrato que obriga a X medalhas e X diplomas. Isso aumenta a pressão da comitiva, ou não?
Isso baliza a performance do comité e não dos atletas. O comité é que se compromete a criar condições para que haja esses resultados. Essa informação nem sempre chega aos atletas. O que é que lhes pesa? Uma medalha de bronze pode valer 25 mil euros, uma de prata 40 mil e uma de ouro 50 mil e isto, na vida de um atleta, faz toda a diferença.
Agora, as pessoas que estão na missão são, elas próprias, atletas de alta competição, ou seja, são pessoas preparadas. A sua preocupação é resolver problemas para que tudo corra bem e os atletas nem sequer percebam que houve problemas. São exímios em não serem visíveis e em resolver tudo.
Há, para um leigo como eu, níveis de pressão diferentes. Por exemplo, nuns Jogos Olímpicos, quem foi lá para ganhar tem mais pressão que um atleta estreante que fica satisfeito se melhorar o seu recorde pessoal?
Não, porque tem a ver com os recursos internos de cada um e da forma como eu lido com isso. Numa situação de competição, há cerca de 600 possíveis fatores de pressão. Uns chegam lá e reconhecem uns e outros reconhecem outros. Tem a ver com a narrativa de cada atleta e com a capacidade de “olha, eu consigo fazer isto”. Para alguns atletas, atirarem-se para uma medalha de ouro é galvanizador, dá pica, é a ativação que precisam. Para outros é “ai, ai, ai”. Depende muito da pessoa e dos recursos que ela tem para lidar com as fontes de pressão que aparecem.
Um dos trabalhos de casa que se faz é fazer o levantamento de todos os cenários de crise que podem acontecer e que resposta é que eu vou dar. Fazemos isto antecipadamente: “Se isto acontecer, o que é que eu faço?” Para que, se essa situação surgir em competição, o meu cérebro já saiba o caminho das pedras e, portanto, a minha capacidade de reagir seja maior.
Rosa Mota e Carlos Lopes deram-nos grandes alegrias, mas houve também o “caso Fernando Mamede”, um atleta que tinha condições atléticas excelentes mas que, nos momentos-chave, falhava devido a uma questão mental.
Tocou no ponto essencial. Falhou nos grandes palcos. Não falo do caso concreto, mas quando há um denominador comum em que a pessoa, sempre em contexto destas características, não consegue manifestar o seu desempenho, aquilo que temos de perceber é o que é que ele está a ler daquele contexto como tão ameaçador para lhe poder dar os recursos para dar a volta à situação.
Hmm, hmm.
E isso é que falhou, mas também estamos a falar de uma altura em que a psicologia do desporto em Portugal não existia praticamente, estava muito ao nível das universidades. Mas, onde há fumo há fogo, temos de ir lá ver e dar-lhe recursos para lidar com a situação. Em Tóquio, tive oportunidade de trabalhar com atletas que nunca tinha visto na vida. E as pessoas perguntam “mas isto é possível?”. Claro que é. É porque, se os atletas lá estão, já têm os recursos psico-emocionais. Se não estão a conseguir, nas vésperas da competição, fazer a sua performance é porque estão bloqueados e, portanto, a função de um psicólogo num contexto de Missão Olímpica é conseguir fazer um diagnóstico rápido de “onde está o bloqueio” e criar um elemento de distração.
Não é resolver o problema, o problema depois o atleta vai resolver com alguém, mas ali é mesmo colocar um penso rápido para bloquear a distração para que a pessoa possa voltar ao seu comportamento normal. Isto faz-se com todas as pessoas. O que acontece é que, naquele contexto em particular, como já temos pessoas em que a competência está instalada, só está bloqueada, se o psicólogo tiver a capacidade de diagnóstico e desbloqueio, consegue operar mudanças muito rápidas naquele contexto.