O primeiro relatório realizado a nível global pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), Lloyd’s Register Foundation e Gallup revela que 23% dos trabalhadores a nível mundial foram vítimas de violência ou assédio físico, psicológico ou sexual ao longo da sua vida profissional. São 743 milhões de pessoas e muitas delas sofreram de várias formas nos últimos cinco anos.
O objetivo é melhorar a compreensão e a consciência sobre um problema enraizado em fatores económicos, sociais e culturais complexos. Um fenómeno de âmbito mundial.
O estudo da OIT, Lloyd´s Register Foundation e Gallup, realizado em 2021, refere que quase 23% de pessoas empregadas viveram situações de violência e/ou assédio físico, psicológico ou sexual nos locais de trabalho durante a sua vida profissional. Para 80%, a última ocorrência aconteceu nos últimos cinco anos.
Mais de 60% revelaram ainda que foram vítimas de várias formas de violência ou assédio e mais de um terço mais de cinco vezes. É o que acontece com quase metade dos inquiridos das Américas (Norte, Central e do Sul).
Quase uma em cada cinco pessoas empregadas referiu ter sido vítima de violência psicológica e assédio no trabalho, em múltiplas formas: insultos, ameaças, bullying ou algum tipo de intimidação. E entre estes, mais de metade, enfrentou episódios recorrentes.
Mais de 205 milhões de trabalhadores viveram experiências de violência sexual e assédio, tais como toques indesejados, comentários obscenos ou a receção de emails, vídeos ou propostas sexuais. Para mais de dois terços, isso aconteceu várias vezes nos últimos cinco anos. As mulheres são mais atingidas do que os homens: 8,2% contra 5%.
Por regiões, é nas Américas que se regista a maior prevalência deste tipo de violência (11,8%), mais do dobro da registada em todas as outras regiões do mundo (5%).
Entre os que já passaram por situações de violência ou assédio no trabalho, quase um terço referiu que foi vítima em mais do que uma forma e 6,3% enfrentou as três formas de violência na sua vida profissional: física, psicológica e sexual. As mulheres são mais vítimas de violência psicológica e sexual; os homens enfrentam mais a violência física e psicológica.
Jovens, mulheres, migrantes e pessoas com incapacidade correm maiores riscos
Quase um quarto dos jovens trabalhadores (15-24 anos) já passou por uma ou várias experiências de assédio e violência no trabalho, especialmente se forem trabalhadoras.
O risco de ser vítima de assédio sexual é o dobro do que enfrentam os rapazes. E se se tratar de mulheres migrantes, esse risco duplica. Segundo o estudo da OIT, as migrantes têm 8,7% mais probabilidade de ser vítimas de violência sexual do que os migrantes homens. A que se acrescenta a violência física e psicológica.
Cruzando os dados, o relatório conclui que mais de 40% das jovens migrantes enfrentaram várias formas de violência e assédio no trabalho, nos últimos cinco anos. Para as não migrantes, a percentagem apurada rondou os 27%.
Os trabalhadores por conta de outrem também estão mais expostos, mas, mais uma vez, as mulheres têm mais probabilidades de se tornar vítimas.
Outro grupo de risco é o das pessoas afetadas por algum tipo de discriminação, em função do género, nacionalidade/grupo étnico, cor da pele, religião ou incapacidade física ou intelectual. Globalmente, estas pessoas são quase três vezes mais vítimas de violência do que as que não integram estas categorias.
Denunciar é perda de tempo?
A nível global, pouco mais de metade das vítimas denunciou ou falou com alguém sobre os abusos a que foram submetidas no local de trabalho (54%). Entre estas, 60% das mulheres partilharam a experiência negativa com algum membro da família ou amigo, colega de trabalho, patrão ou chefia, polícia, líderes comunitários, sindicatos, serviços sociais ou organizações não governamentais. No caso dos homens, apenas metade o fez.
Entre os que decidiram não denunciar as situações de violência, a maioria considera que não vale a pena porque é uma perda de tempo. Quase metade tem receio de manchar a sua reputação. Mas surgem outras razões, como a pouca clareza nos procedimentos no local de trabalho, a falta de confiança nas forças de segurança, líderes comunitários ou inspetores de trabalho. Mais de um terço assumiu que não sabia o que fazer; pouco mais do que aqueles que manifestaram medo de virem a ser punidos.
Eliminar violência e assédio no mundo do trabalho é tarefa de enorme dimensão
Este foi o primeiro Relatório e a diretora-geral adjunta para a Governance, Rights and Dialogue da OIT, Manuela Tomei, espera que contribua para acelerar a ação no terreno, tendo em vista a ratificação e a implementação da Convenção 190ª da Organização Internacional do Trabalho.
A Convenção sobre Violência e Assédio no Mundo do Trabalho, de 2019 e a Recomendação, são as primeiras normas internacionais do trabalho a fornecer um quadro comum para prevenir e eliminar este tipo de abusos, que se encontram em todas as regiões do mundo.
“É doloroso saber que as pessoas são vítimas de violência e assédio no trabalho não apenas uma, mas várias vezes, ao longo da sua vida profissional. Temos uma tarefa de enorme dimensão pela frente”.