E se o médico lhe receitasse uma aplicação?
23-11-2022 - 08:15
 • Anabela Góis

Na Alemanha e na Bélgica já é possível. O Health Cluster Portugal (HCP) - uma plataforma que promove a inovação, tecnologia e cooperação entre as empresas com vista ao desenvolvimento na saúde - quer importar o modelo. O objetivo é dar acesso igual a todos os doentes a inovações digitais para monitorizar os melhorar os sintomas.

Vários países europeus dispõem de modelos de prescrição de soluções digitais em saúde.

A Alemanha, que foi pioneira, criou o DiGA em 2019, um mecanismo que valida e testa aplicações que já integra já 33 soluções digitais prescritíveis.

A Bélgica tem o MHealth Pyramid, que conta com 25 aplicações, uma das quais permite seguir os pacientes com próteses na anca ou no joelho.

Em França o processo arrancou o ano passado e já tem uma aplicação que pode ser prescrita e está apostada em acelerar o acesso a soluções digitais.

Segundo Patrícia Patrício, gestora de conhecimento do Health Cluster Portugal, em causa estão “aplicações digitais e dispositivos médicos com componentes digitais que podem atuar na prevenção e no diagnóstico, na avaliação e no tratamento de doenças. Estamos a falar de doenças crónicas, como por exemplo, diabetes, de doença mental, como depressão e ansiedade, portanto, um mundo de oportunidades de melhorar a terapia e a prevenção de doenças.”

Um estudo desenvolvido pela consultora Deloitte, que é apresentado esta quarta-feira na conferência anual da Health Cluster Portugal, compara os modelos que já existem e sugere a criação de um diretório nacional de soluções digitais.

“É preciso criar uma estrutura, uma forma de promovermos a rápida validação destas soluções que depois sejam integradas numa espécie de catálogo, um diretório acessível a todos os médicos para que possam identificar de forma fácil as aplicações, ou soluções digitais, mais úteis para determinados contextos e patologias”, acrescenta a gestora.

Nesta altura, há várias soluções em desenvolvimento e alguns mecanismos já estão a ser usados pelos pacientes no setor privado por exemplo na área da saúde mental, com dispositivos que recolhem parâmetros do utente e sugerem a intervenção do médico e também no setor público há aplicações em teste. É o caso do Telemonit, uma aplicação móvel desenvolvida pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde que permite ao médico monitorizar o doente à distância.

Na prática, o diretório agregador que o HCP recomenda permitiria ao médico aceder a uma espécie e base de dados e prescrever uma solução digital ao doente tal como agora prescreve medicamentos. "O nosso estudo propõe a criação de um mecanismo semelhante ao que existe na Alemanha” diz Patrícia Patrício, mas com algumas melhorias introduzidas pelo modelo francês, “nomeadamente ao nível da avaliação das soluções não só em termos clínicos, mas também no impacto que têm na forma como os cuidados são prestados”.

Em termos de pagamento, o estudo define soluções diferentes: a comparticipação destes dispositivos “receitados” no SNS. No setor privado o pagamento poderá ser suportado pelo próprio utentes ou pelas seguradoras.