Entrevista à Renascença. António Costa disponível para negociar com todos os partidos, menos o Chega
24-01-2022 - 08:57
 • Susana Madureira Martins , Fábio Monteiro

Em entrevista à Renascença, António Costa deixa todas as portas que dão acesso a S. Bento em aberto, salvo à extrema-direita. “Com certeza, a seguir às eleições vamos ter de conversar com todos os partidos", diz. É possível, então, entendimentos com o PSD? A resposta: “a nossa base de entendimento é o país." Questionado sobre o pedido de "deferência" de José Sócrates ao PS, Costa demarcou-se do ex-primeiro-ministro.

O PS deixa a porta aberta a entendimentos à esquerda no pós-eleições? Com todos os partidos, à exceção do Chega, garantiu António Costa, secretário-geral do PS, em entrevista à Renascença esta segunda-feira. “Depois do aconteceu, não posso dizer que geringonça seja a única solução”, frisou.

No domingo, Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, lançou a António Costa um convite para reunir depois de dia 30 de janeiro. Ao que o líder socialista respondeu: “com certeza, a seguir às eleições vamos ter de conversar com todos os partidos”.

No mesmo sentido, o socialista também não descartou a possibilidade de dialogar com o PCP – um pedido que João Oliveira tem feito inúmeras vezes nos últimos dias. Em todo caso, disse achar “estranho” que lhe “venham fazer perguntas sobre o diálogo”, tendo em conta o próprio, “sem imodéstia”, é “o político português que mais dialogou” com os partidos da esquerda e derrubou o muro erguido em 1975.

Sem apelar diretamente à maioria absoluta, Costa garantiu que não ia encostar os portugueses à parede, como já foi feito no passado: “ou é maioria absoluta ou vou embora.” Em vez disso, prometeu “encontrar para o país a melhor solução de Governo”.

Entendimentos com o PSD?

A fazer lembrar o discurso de Rui Rio nas últimas semanas, António Costa, em entrevista à Renascença, frisou que a grande escolha dos portugueses dia 30 estará entre “a solução programática do PS e a do PSD”. Mas, mais uma vez, deixou em aberto o cenário de um bloco central. “A nossa base de entendimento é o país”, disse.

Questionado sobre o novo aeroporto de Lisboa, António Costa não descartou um consenso com o PSD. Segundo o socialista, o seu Governo herdou e “aceitou” a solução Alcochete do executivo de Passos Coelho, mas, com Rui Rio na liderança do PSD, não foi possível avançar. “O máximo que conseguimos obter do PSD foi um estudo, a avaliação ambiental estratégia”, queixou-se.

Costa revelou que já conversou com Carlos Moedas, autarca lisboeta que pertenceu ao Governo de Passos, e este lhe garantiu que “mantém a mesma posição que estava no Governo”. Falta saber a posição definitiva de Rui Rio.

Sócrates sem deferência

Na semana passada, em entrevista à “CNN Portugal”, José Sócrates, ex-primeiro-ministro, afirmou merecer do PS mais “deferência”, já que foi o único político a conseguir uma maioria absoluta para o partido.

Segundo Costa, o PS nunca excluiu Sócrates da sua história, “não fazemos como o estalinismo”.

"O PS nunca confundiu a situação judicial de Sócrates com a história do partido. Goste-se ou não, ele faz parte da história do PS. A única divergência que surgiu foi que Sócrates entendeu que o PS devia ser uma espécie de Guarda Pretoriana no seu processo judicial, que ele entende ser de natureza política", disse.