O Trump brasileiro
09-10-2018 - 06:07

São mais as semelhanças do que as diferenças entre Trump e Bolsonaro. E a provável vitória deste último acrescentará mais um grande país à onda fascizante que percorre o mundo.

A provável vitória de Bolsonaro na segunda volta das eleições presidenciais no Brasil (28 deste mês) torna claras várias semelhanças com o percurso de Trump. De início, ambos foram considerados inelegíveis, de tal forma eram escandalosas e mesmo estapafúrdias as suas afirmações. Mas conquistaram o eleitorado, apostando no medo e no ódio aos adversários e às minorias.

Bolsonaro, como Trump, casou três vezes, mas também ele conseguiu o apoio de grande parte dos cristãos evangélicos – que não se impressionaram com o racismo do personagem, nem com o seu desprezo pelas mulheres ou com o seu apoio à tortura ou, até, ao assassinato de suspeitos e de inimigos políticos. O líder da poderosa IURD, Edir Macedo, disse publicamente que votaria em Bolsonaro. Trump continua igualmente a beneficiar de forte popularidade entre os evangélicos, apesar dos seus múltiplos casos de cariz sexual. E as campanhas eleitorais dos dois foram sobretudo realizadas através das redes sociais, não dispensando aí uma considerável dose de notícias falsas e insinuações maldosas.

Quanto às diferenças, ao contrário de Trump, que era um negociante do sector imobiliário, Bolsonaro foi um obscuro deputado federal desde 1991. Mas a grande diferença entre eles está em que o Brasil não é os Estados Unidos. Trump é mais perigoso porque o seu poder mundial é incomparável ao de qualquer presidente do Brasil. E a história política dos dois países – EUA e Brasil – é bem diferente. Os EUA são uma democracia liberal que não sofreu quebras desde a independência do país, em 1776. A esperança, hoje, é que a democracia americana consiga resistir a Trump, que não a aprecia. Pelo contrário, o Brasil viveu em ditadura civil (Getúlio Vargas, 1937-1945) e militar (1964-1985) e ainda outras suspensões da democracia ao longo do séc. XX.

Uma provável presidência de Bolsanaro será muito próxima de alguns meios militares, que à força do direito preferem o direito da força. E acrescentará mais um grande país à onda fascizante que percorre o mundo, atingindo mesmo Estados membros da Europa comunitária. É preocupante este ataque global ao humanismo ou, mesmo, à simples e elementar decência na vida política.