​Vera Jardim explica derrota de Belém e ataca Carlos César por apoiar Nóvoa
26-01-2016 - 02:41
 • José Pedro Frazão

No primeiro debate na Renascença após as presidenciais, o porta-voz da candidatura de Maria de Belém critica a direcção e o presidente do PS pelos apoios a Sampaio da Nóvoa. Vera Jardim assume erros na campanha e reconhece uma fractura no partido entre linhas que sempre existiram no PS.

Vera Jardim reconhece que a noite foi muito dura para os apoiantes de Maria de Belém. “Foi um duche de água fria, gelada. Foi um resultado que ficou muito aquém do que se pretendia”, lamenta o antigo ministro da Justiça, no programa “Falar Claro” da Renascença.

O histórico socialista ensaiou as primeiras respostas para a hecatombe da candidatura que apoiou face às sondagens que a davam taco-a-taco com Sampaio da Nóvoa.

Um dos alvos foi a direcção do PS, que acusa de ter estado ao lado de Sampaio da Nóvoa depois de uma promessa de neutralidade oficial do partido face aos candidatos da mesma área política.

“Toda a gente está no seu direito de dizer o que bem entender. Mas acho que certas figuras do PS devem coibir-se de o fazer. Um presidente do partido [Carlos César] não deve fazê-lo, direi a quem de direito. Se o secretário-geral diz que o PS não apoia nenhum candidato, acho que, por exemplo, o presidente do partido deve coibir-se de tomar uma posição que diz ser a título pessoal. Nestas coisas não há posições a título pessoal. Ou se apoia um ou apoia outro ou as pessoas não apoiam ninguém”, critica Vera Jardim no programa “Falar Claro”.

O antigo ministro exclui os governantes da crítica que deixa na Renascença.

“Não estou a falar de ministros. Os ministros são militantes do PS que tomam a posição que bem entenderem. Estou a falar de figuras com responsabilidade na direcção do PS que, dias antes, anunciaram um apoio a título pessoal”, clarifica o comentador socialista.

Os erros da campanha de Belém

Vera Jardim acrescenta outros factores internos como justificações para o mau resultado da candidatura, a juntar à reafirmação de uma crítica ao “populismo demagógico” que prejudicou Maria de Belém a propósito da reposição das subvenções vitalícias dos políticos.

“Quando há este resultado, há também certamente erros por parte da campanha. Eu assumo a minha parte das responsabilidades, como todos assumimos. A campanha começou muito tarde, devia ter começado a ser preparada uns meses antes. Foi anunciada a 14 de Outubro e praticamente arrancou em Novembro. Foi muito tarde e isso paga-se naturalmente. Foi uma campanha que porventura não aproveitou todas as potencialidades da candidata no contacto com as populações. Terá sido um outro erro. Foi uma campanha um pouco fechada em meios protegidos, também porque o ambiente à volta dela não era favorável em muitos casos”, reconhece o porta-voz da candidatura presidencial de Maria de Belém Roseira.

As fracturas que ficam no PS

Para Vera Jardim, o debate em torno das tendências que existem no PS deve excluir qualquer facção ligada a António José Seguro.

“Uma coisa que começa até a ser um pouco ridícula que é o ‘segurismo’, o ‘segurismo’ sem Seguro. Seguro desapareceu e aí até deu um bom exemplo. Nunca mais ouvi falar dele”, começa por dizer Vera Jardim no debate político semanal na Renascença com Nuno Morais Sarmento.

Onde está a fractura no PS? “Se pudermos falar em fractura”, ressalva Vera Jardim, “é que há pessoas mais situadas no centro-esquerda e outras mais situadas à esquerda. No centro-esquerda estão os apoiantes que maioritariamente estiveram com Maria de Belém e há outros mais à esquerda onde estão muitos militantes do PS. Se a maioria está mais à esquerda? Não sei, veremos. Pelo menos nesta campanha tudo indica que sim”.

Mais à frente, Vera Jardim desmonta a sua própria tese sobre a natureza dessa fractura entre esquerda e centro-esquerda no interior do Partido Socialista.

“Aliás, a fractura não é exactamente aí, porque não situamos Manuel Alegre na direita do PS. Eu fui sempre conotado com a esquerda do PS. E agora vi-me ‘empurrado’ para a direita do PS. As pessoas têm opiniões sobre as coisas e colocam-lhes rótulos”, lamenta o histórico militante socialista.

Vera Jardim argumenta que “sempre coabitámos no PS com linhas mais à esquerda, outras mais ao centro”. As divergências internas no partido não chegam para colocar em causa o apoio ao Governo de António Costa. “A generalidade das pessoas apoiava e continua a apoiar esta solução governativa. Aí não vejo fractura”, assegura o militante socialista.

Vera Jardim acaba o programa a minimizar a natureza dessa clivagem no interior do PS.

“Fractura quanto à análise de certas coisas? Existe, mas não lhe chamo fractura mas sim diversidade de opiniões”, remata o antigo ministro que recusa a ideia de uma turbulência a prazo no PS, mas apenas uma “discussão franca entre camaradas”.