Hospital Júlio de Matos. Só um enfermeiro para 46 doentes à noite
20-12-2016 - 15:27

A administração do hospital diz que a segurança dos doentes não está em causa.

Um enfermeiro para 46 doentes durante a noite e mais de mil horas extraordinárias por pagar são algumas das consequências da falta de pessoal no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, denunciadas esta terça-feira por dirigentes sindicais.

Frente à entrada do Centro hospitalar Psiquiátrica de Lisboa, dirigentes do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas (FP) entregaram esta terça-feira panfletos com algumas das razões porque considerem ser "urgente mais profissionais".

Segundo Isabel Barbosa (SEP), neste hospital existe uma "carência extrema de profissionais de saúde", que se agravou nos últimos tempos.

"Chega a estar um enfermeiro sozinho numa noite para 46 utentes", denunciou, ressalvando que se trata de "um serviço de reabilitação de doentes dependentes e de doentes com necessidades na área da saúde mental e da psiquiatria".

Para esta enfermeira, "já é complicado dar assistência aos cuidados inerentes à dependência dos utentes, para depois acrescentar outro tipo de cuidados que estes utentes necessitariam e que neste momento não é possível os enfermeiros prestarem".

Outro sinal da falta de pessoal é o volume de horas extraordinárias por pagar: 10.124.

Segundo Isabel Barbosa, esta situação só poderá resolver-se com a abertura de concursos para a fixação de trabalhadores, mas "isso não está a acontecer".

A carência estende-se ainda a outros trabalhadores, como os assistentes operacionais, como explicou Ana Pais, do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas (FP).

Esta dirigente sindical e trabalhadora do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa revelou que faltam todos os tipos de trabalhadores neste hospital.

"Chega a estar um único auxiliar para 28 ou mais utentes nas enfermarias, da parte da tarde e mesmo durante a noite", denunciou.

Ana Pais denunciou uma "grande sobrecarga de trabalho, o que muitas vezes leva a acidentes de serviços e até baixas prolongadas pela sobrecarga que têm e que leva a problemas de saúde".

"Um serviço de saúde não pode funcionar sem trabalhadores. Logo aí, à partida, a saúde dos utentes também fica em causa", disse.

Os trabalhadores entregaram depois à presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Isabel Paixão, 67 cartas de trabalhadores a exigirem os pagamentos das horas extraordinárias.

Em declarações à agência Lusa, Isabel Paixão reconheceu dificuldades ao nível do pessoal, para as quais terá contribuído a alteração das cargas horárias semanais (de 40 para 35 horas). "Informámos a tutela e pedimos a abertura de quotas concursais", disse.

Segundo Isabel Paixão, foram solicitados concursos para a admissão de 15 enfermeiros e dez assistentes operacionais, sobre as quais ainda é aguardada resposta.

A administradora garantiu que não está posta em causa a segurança dos doentes e dos profissionais. "O recurso a horas extraordinárias existe precisamente para garantir que é aplicado o devido programa aos doentes", disse.