Residentes da sede distrital de Macomia, na província moçambicana de Cabo Delgado, alertaram hoje para o aumento do número de deslocados devidos a confrontos intensos entre as forças estatais e ruandesas contra os terroristas nas matas de Mucojo.
"Pessoas estão a chegar [à sede do distrito]. fogo lá no terreno é intenso (...) O fluxo da chegada das pessoas começou no sábado", disse à Lusa um residente da vila sede, localizada a 40 quilómetros das matas de Mucojo, onde os confrontos ocorrem.
Uma fonte da força local avançou à Lusa que os confrontos entre a missão militar conjunta e os insurgentes começaram nos primeiros dias de agosto, nas matas do posto administrativo de Mucojo, envolvendo helicópteros, blindados e homens armados, com relatos de tiroteios em locais considerados como esconderijos destes grupos.
"A ideia é desalojar os terroristas das suas posições", disse o membro da força local, constituída por antigos combatentes da luta de libertação nacional e que apoiam as autoridades no combate à insurgência.
Os confrontos precipitaram a saída de alguns camponeses por medo, devido à intensidade dos bombardeamentos, sobretudo por acontecerem próximo às zonas agrícolas de Namigure e Nambine, onde alguns realizam atividades como desbravamento de matas, preparando a próxima época agrícola.
"As pessoas estavam a preparar a próxima época e, com os bombardeamentos, a situação fica complicada, porque há quem abandonou a sua machamba" (terrenos de cultivo), lamentou à Lusa outra fonte a partir de Macomia.
Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
O último grande ataque deu-se em 10 e 11 de maio à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.
A população de outros distritos da província tem relatado a movimentação destes grupos de insurgentes, que provocam o pânico à sua passagem, nas matas, mas sem registo de confrontos, o que acontece numa altura em que os camponeses tentam realizar trabalhos de colheita nos campos de cultivo.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, afirmou, em 16 de junho, que a ação das várias forças de defesa permitiu acabar com "praticamente todas" as bases dos grupos terroristas que operam em Cabo Delgado.
"O resultado dessa conjugação de forças é surpreendente. Conseguiram desativar os terroristas de todas as vilas e aldeias que haviam sido ocupadas, destruíram praticamente todas as bases fixas do inimigo, tornando-os nómadas, e colocaram fora de combate muitos extremistas violentos, incluindo alguns dos seus principais dirigentes", disse Nyusi, em Mueda, província de Cabo Delgado.
O chefe de Estado reconheceu o esforço das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, em conjunto com os militares do Ruanda, da missão dos países da África austral — que concluiu a retirada total a 4 de julho — e da Força Local, constituída por antigos combatentes da luta de libertação nacional, no combate a estes grupos nos últimos seis anos.
"Andam aí no mato, mas já não ficam num sítio porque têm medo de ser encontrados", disse ainda, renovando o apelo à população "para continuar a reforçar a vigilância".