Ensino à distância. “São dois anos perdidos” para muitas crianças, diz antiga ministra
01-02-2021 - 11:34
 • Marta Grosso , Miguel Coelho (entrevista)

Escolas, pais e professores preparam-se para um novo período de aulas online, mas as dúvidas são ainda muitas. À Renascença, Maria de Lurdes Rodrigues diz que, sendo “uma inevitabilidade” atual, o ensino à distância “nunca é uma boa solução”.

Falta uma semana para o reinício das aulas, mais uma vez à distância. Na opinião da antiga ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, estes dois anos de aulas online devido à pandemia de Covid-19 vão ter efeitos negativos nas crianças.

“Para muitas crianças, isto pode traduzir-se em dois anos perdidos, sim. E não apenas aqui em Portugal, em todo o mundo. É uma situação muito difícil”, afirma no programa As Três da Manhã.

E, “quanto mais se desce nas idades, piores os efeitos nefastos”, acrescenta, “porque não é substituível o défice de socialização com outras crianças de diferentes meios, diferentes proveniências e diferentes características – isso que é um efeito poderoso da escola; por isso é que a escola se passa no espaço físico e não no seio das famílias”.

Por isso, e porque “somos ainda um país com grandes desigualdades territoriais e sociais”, “vamos ter muitos problemas e todos somos poucos para ajudar a superá-los”.

Maria de Lurdes Rodrigues lembra que, “para muitas crianças” do país, “falar de ensino à distância é o mesmo que nada; não se cumpre, por variadíssimas razões”.

“No nosso país, grande parte das mães, trabalha. É uma situação invulgar. Em muitos países da Europa, não há uma percentagem tão elevada de mães que trabalhem”, destaca.

A experiência do primeiro confinamento com ensino à distância “revelou que a solução não era uma boa solução”, diz a antiga ministra, admitindo que é uma inevitabilidade.

Por isso, considera que se “deve regressar às aulas presenciais logo que possível”.

“Numa situação normal, poderia funcionar como um complemento da escola para algumas atividades, mas [o ensino à distância] não é uma boa solução para o cumprimento da missão de educação, para o cumprimento da missão das escolas”, defende.

“As escolas, a educação devem funcionar num espaço físico próprio, que não se confunde com o espaço doméstico da família; deve ser desenvolvido com atividades presenciais, com professores, com recursos didáticos e tecnológicos. É nessas condições que a escola pode cumprir a sua missão”, sustenta.

Depois de umas férias forçadas que obrigaram também a uma alteração do calendário escolar, os alunos de todo o país regressam às aulas, mas à distância a partir da próxima segunda-feira, dia 8.

Nesta altura, ainda pairam muitas dúvidas no ar, seja da parte dos pais seja dos professores e diretores de escola. Não são conhecidos horários e não se sabe também se haverá computadores ou tablets para todos os alunos.