Comparar escolas públicas e privadas "é uma injustiça"
27-06-2020 - 00:00
 • Fátima Casanova

Presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares não está surpreendido pelo facto de as escolas públicas estarem a perder terreno no ranking e antecipa aumento da clivagem por causa da pandemia.

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“Os rankings colocam sempre as escolas públicas e privadas em comparação, independentemente da sua diversidade”, e isso representa uma injustiça, defende o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).

Manuel Pereira sublinha que, “mesmo com a atual metodologia de controlo de alguns fatores fundamentais, como a ponderação socioeconómica do perfil social dos alunos”, a comparação é “uma injustiça, na medida em que se tenta comparar o incomparável”.

Para o líder da ANDE e diretor do Agrupamento de Escolas de Cinfães, “a realidade é sempre muito mais complexa do que supõe uma simples classificação de escolas por notas de exames nacionais”. Mesmo assim, cada escola “olha para esta listagem ordenada sempre como um instrumento de trabalho importante, tentando perceber a sua posição e razões de possíveis alterações”.

Lembrando que “a escola pública recebe todos os alunos, queiram eles estar na escola ou não, venham eles de famílias disfuncionais ou monoparentais, com necessidades educativas especiais, ou com dificuldades de aprendizagem”, a escola “a todos tenta dar resposta”, enquanto os colégios “genericamente não têm este tipo de obrigações”.

Manuel Pereira assume, que “quando chega a altura de criar um ranking” estes fatores têm impacto e, por isso, não se preocupa muito com o facto das escolas privadas aparecerem sempre nos primeiros lugares.

Clivagem entre públicas e privadas vai aumentar

O presidente da ANDE não tem dúvidas em reconhecer que “o funcionamento da escola à distância aumentou a clivagem”, sustentando que “boa parte das escolas privadas continuaram a trabalhar”, porque “todos os alunos tinham acesso às novas tecnologias e tinham quem os apoiasse em casa”.

Já quanto aos alunos da escola pública, “uma boa percentagem não tinha nem apoios em casa, nem os meios telemáticos necessários e suficientes para estarem a acompanhar as aulas que os professores davam à distância”.

O presidente da ANDE reconhece que “este tempo prejudicou claramente os alunos e quanto mais novos, mais prejudicados foram, porque ficaram sem o apoio direto dos seus professores e sem a presença dos colegas em sala de aula”.

Para este diretor escolar, “tudo isto se vai refletir nas aprendizagens e é preciso encontrar soluções para recuperar tudo aquilo que se perdeu”.

A receita para atenuar diferenças, segundo Manuel Pereira, passa por “trabalhar a montante, nas famílias em termos sociais e em termos económicos, nomeadamente aquelas com filhos em idade escolar para que eles não sejam excluídos” em termos de aprendizagem.