​Cinco anos depois de Francisco em Lampedusa
09-07-2018 - 06:40

Decidiu, na altura, chamar a atenção do mundo, mas sobretudo da comunidade cristã, para as tragédias humanas dos fluxos migratórios com destino à Europa.

Fez este domingo cinco anos que o Papa Francisco escolheu como destino da primeira viagem do seu Pontificado a ilha italiana de Lampedusa.

Decidiu, na altura, chamar a atenção do mundo, mas sobretudo da comunidade cristã, para as tragédias humanas dos fluxos migratórios com destino à Europa e para o que passou a designar como ‘globalização da indiferença’. Durante a homilia, no campo desportivo ‘Arena’, em Salina, o Papa disse: “Senhor, nesta Liturgia, que é uma liturgia de penitência, pedimos perdão pela indiferença por tantos irmãos e irmãs; pedimo-Vos perdão, Pai, por quem se acomodou, e se fechou no seu próprio bem-estar que leva à anestesia do coração; pedimo-Vos perdão por aqueles que, com as suas decisões a nível mundial, criaram situações que conduzem a estes dramas.”

Passado todo este tempo, a União Europeia atirou algum dinheiro para cima do problema (através de um acordo de ‘retenção’ de migrantes com a Turquia e de acordos de dimensão menor com outras nações), investiu mais numa força militar de patrulhamento do Mediterrâneo e, mais recentemente, começou a discutir planos para a construção de ‘campos de acolhimento’ em alguns territórios europeus e nalguns dos países de partida; ao mesmo tempo, através de ações políticas isoladas, alguns governos escolheram fechar fronteiras e erigir barreiras físicas.

Nada disto resolveu coisa nenhuma. E muito pouco disto teve a ver com a mensagem original do Papa Francisco em Lampedusa. Talvez por isso, na semana passada, durante uma missa para assinalar precisamente a sua ida à ilha, o Papa tenha voltado ao assunto: “Perante os desafios migratórios da atualidade, a única resposta sensata é a solidariedade e a misericórdia; uma resposta que não faz demasiados cálculos, mas exige uma divisão equitativa das responsabilidades, uma avaliação honesta e sincera das alternativas e uma gestão prudente”.

É curioso e assustador ao mesmo tempo pensar que algumas das nações com posicionamentos políticos mais intransigentes nesta questão da dignidade dos migrantes são as que se dizem mais defensoras de uma matriz Cristã da União Europeia.

É só mais um paradoxo, numa crise que é, sobretudo, política e que, no limite, pode tornar-se no rastilho para o fim objetivo do mais interessante projeto político que a Humanidade conheceu