Túnel do Marão é alternativa ao IP4 onde morreram 136 pessoas
06-05-2016 - 10:00

Maior túnel rodoviário mineiro da Península Ibérica é inaugurado sábado permitindo a ligação à A4 para o Porto e para Bragança.

Os números negros da sinistralidade no Itinerário Principal 4 (IP4) sustentaram a reivindicação de uma via alternativa na área dos concelhos de Amarante e Vila Real, e onde, em 20 anos, morreram 136 pessoas. A Auto-estrada do Marão, a maior obra pública dos últimos tempos em Portugal, representa um investimento global de 398 milhões de euros, dos quais 89 milhões são financiamento comunitário.

Esta auto-estrada foi lançada em 2008, pelo Governo socialista de José Sócrates, como uma parceria público-privada. O contrato de concessão foi assinado com a Concessionária Autoestrada do Marão, composta pelas empresas Somague e MSF.

A obra arrancou em 2009. Na altura, Sócrates afirmou que a via "vai acabar com a ideia de que haverá pessoas para cá do Marão ou para lá do Marão", considerando tratar-se de uma "obra histórica que ligará Trás-os-Montes à rede de auto-estradas do país" e que "marcará um antes e um depois".

A infra-estrutura, que é o maior túnel rodoviário mineiro da Península Ibérica, com 5,6 quilómetros, rasgou a serra do Marão entre Amarante e Vila Real e demorou sete anos a concluir. É inaugurado este sábado.

Até à construção da Auto-estrada do Marão, os dez maiores túneis portugueses encontravam-se na Madeira, com o Túnel do Cordado (3,2 quilómetros) a liderar esta lista. No continente, a maior infra-estrutura rodoviária do género era a da Gardunha, no Fundão, com 1,6 quilómetros.

Dentro da infra-estrutura apostou-se num sofisticado sistema de segurança que inclui um circuito de videovigilância e a detecção automática de incidentes.

IP4 marcado por 1.273 acidentes

A ligação entre Vila Real e Amarante pelo IP4, a primeira via rápida a rasgar este território, ficou concluída em 1988. Até então a principal via de ligação ao litoral era a Estrada Nacional 15 (EN 15) que subia e descia pela serra e a nova estrada permitiu poupar "duas horas na viagem" e ainda "no desgaste das viaturas" e nos "combustíveis".

Mas, apesar de melhorar as acessibilidades e já aproximar significativamente a zona do Porto e Trás-os-Montes, a nova estrada entrou também para a história desta região pelos números negros da sinistralidade.

Em 2000, foi criada a Associação dos Utilizadores do IP4 (AUIP4) precisamente para alertar para o elevado número de acidentes e de mortos nesta estrada e para reivindicar melhores condições de segurança rodoviária.

Dois anos depois, sociedade civil, autarcas e políticos juntaram-se para subscrever uma petição a reivindicar o prolongamento da Auto-estrada 4 (A4), de Amarante até Bragança.

Segundo esta associação, o ano mais negro da história do IP4 foi em 2004, quando morreram 33 pessoas em toda a sua extensão, desde Amarante, Vila Real a Bragança.

De acordo com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), em quase 20 anos, entre 1996 e 2015, registaram-se 1.273 acidentes com vítimas no troço compreendido entre Amarante e Vila Real. Destes acidentes resultaram 136 mortos, 200 feridos graves e 1.807 feridos ligeiros.

É precisamente para este troço que a Auto-estrada do Marão - Túnel do Marão, que abre às 00h00 de domingo, se apresenta como alternativa.

Com a nova via pretende-se a redução de 26% da taxa de sinistralidade grave, a diminuição do tempo médio de viagem e a garantia de mobilidade em condições atmosféricas adversas (gelo e neve), que às vezes condiciona o IP4 no seu ponto mais alto, o Alto de Espinho.