Balsemão: Enfraquecimento do jornalismo faz mal à democracia
22-02-2017 - 22:31

Na abertura do festival literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, o fundador do "Expresso" criticou o jornalismo cidadão e a "ditadura" do algoritmo na selecção de notícias.

O trabalho dos jornalistas é essencial para travar o que é “nocivo para uma democracia enfraquecida”, defendeu o fundador do "Expresso" Francisco Pinto Balsemão, esta quarta-feira, no festival Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim.

O desafio colocado ao conferencista de abertura do festival era saber se “Os média ainda são necessários”. Francisco Pinto Balsemão, decano dos empresários de média, presidente da holding Impresa, foi à Póvoa de Varzim analisar os desafios que o jornalismo e os média tradicionais enfrentam.

Desde logo a voracidade das redes sociais, a nova forma de consumir informação, os hábitos matinais que, diz Balsemão, mudaram quando nos ligamos ao mundo depois de acordar.

Pinto Balsemão trouxe à conversa a questão do que é ou não verdade, da veracidade da informação que circula. Citou várias vezes o exemplo do Presidente norte-americano, Donald Trump.

Para o fundador do semanário “Expresso”, o jornalismo cidadão não pode ser colocado no mesmo patamar do jornalismo profissional.

“O chamado jornalismo do cidadão não pode ser, genericamente, qualificado como jornalismo e não podemos colocá-lo ao nível do jornalismo profissional. Se não houver quem separe o trigo do joio, quem exerça as tarefas de depuração, de filtragem, vai acentuar-se a tendência para, cada vez mais, alinharmos por baixo o que é nocivo para uma democracia enfraquecida”.

Na conferência que abriu a edição dos 18 anos do festival Correntes d'Escritas, Francisco Pinto Balsemão alertou para o perigo de não haver sanções para os chamados desinformadores. Lembrou a importância da ética e sublinhou também o factor determinante dos média convencionais como marcas de prestígio.

“A importância das marcas duráveis, reconhecidas e testáveis é fundamental. E as marcas mais credíveis são aquelas que continuam a ter não só viabilidade económica, mas também influência positiva junto da opinião pública”, afirma o antigo primeiro-ministro.

“Esta função de legitimação informativa pelos média de qualidade é, por vezes esquecida. Parece que legitimação dos conteúdos pelos algoritmos de empresas como o Google ou o Facebook é suficiente, e os algoritmos não legitimam nada”, sublinha Pinto Balsemão.

Licenciado em Direito, o fundador do PSD trouxe à Póvoa de Varzim também a questão da sobrevivência do jornalismo. Para Balsemão, estamos em época de mudança e adaptação.

“O jornalismo tem de se adaptar, se não mesmo ir à frente, ao ritmo acelerado que as novas tecnologias impõem às diferentes modalidades de acesso à informação e, mais do que isso, de interacção com a informação. Só assim sobreviverá e ganhará. Eu estou empenhado nessa luta e acho que vamos ganhá-la”, acredita o fundador do “Expresso”.

Francisco Pinto Balsemão falava no festival Correntes d'Escritas, que esta quarta-feira distinguiu o poeta Armando silva Carvalho, pelo livro “A sombra do Mar”.

O festival decorre até sábado, com mais nove mesas de debate, com dezenas de escritores, como Teolinda Gersão, Cristina Norton, Germano Almeida, Rui Zink, David Machado, João de Melo, Sérgio Godinho, Ondjaki, Alvaro Laborinho Lúcio, Clara Ferreira Alves, Afonso Cruz e muitos outros.

Decorrem também cerca de 30 lançamentos de livros, muitas novidades literárias que os editores guardam para estes dias para serem lançadas naquele que é considerado o principal festival literário de Portugal.