Macau não é Hong Kong
27-07-2022 - 06:35

O princípio “um país, dois sistemas” continua a ser invocado pelas autoridades chinesas, mas deixou de ter conteúdo útil. Em Hong Kong a população reagiu com protestos e manifestações à repressão chinesa. Em Macau prevalece a passividade.

Em 1985 o Reino Unido assinou com a China um acordo sobre a transferência de Hong Kong para a soberania chinesa. Dois anos depois foi a vez de Portugal e a China acordarem a transferência da soberania de Macau.

Estes acordos previam que, durante um período de 50 anos, vigorassem as liberdades democráticas naqueles dois territórios. Era a aplicação do princípio chinês “um país, dois sistemas”. Ora estamos ainda longe do final daquele período, mas seria mais realista falar, hoje, em “um país, um sistema” – a ditadura do partido comunista chinês.

A violação dos acordos assinados pelo Reino Unido e por Portugal com a China na década de 80 do século XX é clara. As autoridades chinesas, que são quem agora manda naqueles territórios, persistem em falar em “um país, dois sistemas”, mas este princípio ficou esvaziado de conteúdo útil.

Foi muito diferente a reação de Hong Kong e de Macau a esta funesta evolução. Mais populoso e mais rico, Hong Kong reagiu com inúmeras manifestações e protestos à ditadura chinesa. Já em Macau as autoridades conseguiram silenciar a maior parte dos protestos, que não foram muitos.

Importa lembrar que, até ao 25 de Abril, em Portugal vigorava uma ditadura, que nunca mostrou interesse em ter no território de Macau uma democracia. Pelo contrário, em Hong Kong o Reino Unido esforçou-se por promover a democracia pluralista antes do acordo com a China. Nesse esforço destacou-se o último governador britânico do território, Chris Patten.

Nos últimos anos assistimos a corajosos protestos em Hong Kong contra a erosão dos direitos, liberdades e garantias da população. A força acabou por prevalecer, mas ficou a imagem da heroica resistência dos habitantes de Hong Kong face à repressão chinesa.

Quanto à violação por Pequim do acordo de 1987, não se ouve do Governo português um protesto. O que encontra paralelismo na passividade democrática em Macau.