Greve dos enfermeiros "é cruel porque se vira contra os mais fracos"
12-12-2018 - 10:53

A paralisação dura há quase três semanas e já obrigou ao adiamento de mais de quatro mil cirurgias, segundo os números do Governo. Enfermeiros preparam já segunda fase de greve nos blocos operatórios.

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A ministra da Saúde considera que a greve dos enfermeiros “é cruel” por colocar em causa a vida de pessoas mais fragilizadas.

Falando esta quarta-feira no Parlamento, onde está a ser ouvida, Marta Temido considerou o número de cirurgias adiadas “preocupante, porque representa doentes que não foram intervencionados”, em “resultado, penso que vale a pena dizê-lo, de uma greve cruel, porque se vira contra os mais fracos e não contra quem se entende que é o sujeito das reivindicações de uma greve, que é o patronato”.

Segundo as contas do Ministério da Saúde, entre o início da greve (22 de novembro) e segunda-feira (10 de dezembro), ficaram por fazer 4.543 cirurgias devido à greve. O número é inferior ao que estava a ser avançado até sexta-feira e que apontava para cinco mil cirurgias.

Aos deputados, a ministra garantiu que mantém a porta aberta ao diálogo com os sindicatos e manteve o objetivo definido na terça-feira pelo primeiro-ministro, de realizar as cirurgias adiadas no primeiro trimestre do próximo ano.

“Continuamos muito disponíveis para este trabalho” e “acreditamos que o trabalho concretamente com os hospitais permita, num horizonte temporal do primeiro trimestre do ano, recuperar estas cirurgias que agora foram adiadas”, afirmou.

As remarcações começarão “em breve, dentro do Serviço Nacional de Saúde – leia-se dos hospitais com gestão pública – e naturalmente encaminhados, se esse for o caso, dentro das regras que regulam o acesso e o cumprimento dos tempos máximos de resposta garantidos para outros parceiros”, acrescentou.

A remarcação das cirurgias canceladas vai, contudo, afetar o calendário das já agendadas para 2019, admitiu.

“Sim, se estas cirurgias foram remarcadas isso impacta no calendário das outras cirurgias, todos sabemos com as coisas funcionam, mas não repudiamos que é por isso que continuamos a trabalhar e que é por isso que esperamos que as profissões cumpram os seus primeiros deveres, que são o respeito pelos interesses dos doentes que deontologicamente assumem como sua principal obrigação”, respondeu a um deputado do PSD.

A ministra afirmou ainda que o Governo assume os problemas que tem de enfrentar com dois grupos profissionais específicos: os enfermeiros e os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica.

"Temos problemas e não os escamoteamos", disse aos deputados, indicando que,

só este ano, foram realizadas mais de 30 reuniões com os sindicatos dos enfermeiros e mais de 20 com os sindicatos que representam os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica.

Em relação à dívida do Serviço Nacional de Saúde, a ministra Marta Temido diz ter a expectativa de que, no final do ano, será possível ter essa dívida controlada tendo em conta a melhoria dos indicadores.

A greve dos enfermeiros que decorre desde o dia 22 de novembro em blocos operatórios de cinco hospitais públicos prolonga-se até final do mês. Os sindicatos já pensam, contudo, numa segunda fase para o início de 2019.

No sábado, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que o exercício de direito à greve deve ser "respeitado", mas disse esperar ponderação de que quem recorre ao protesto sobre os efeitos que provoca junto dos portugueses.

Na terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a pedir ponderação “pelas milhares de pessoas afetadas”.