​“Salário de Ronaldo dava para não mandar para casa 1.640 operários da FIAT”, diz dirigente sindical
11-07-2018 - 15:00

Domenico De Stradis, funcionário da FIAT e sindicalista, esclarece que a greve “não é contra Ronaldo, mas contra esta sociedade que criou monstros e 20 mundos diferentes no mesmo planeta”.

Domenico De Stradis, trabalhador da FIAT e dirigente sindical, falou, em declarações exclusivas à Renascença, sobre a greve organizada pelos trabalhadores da empresa automóvel, na sucessão da contratação de Ronaldo.

“O que pagam ao Ronaldo serviria para pagar 1.640 operários da FIAT”, que, curiosamente, “por coincidência matemática”, é exatamente o número de trabalhadores da FIAT que estão provisoriamente em casa, indicador da “desigualdade social” existente, segundo o italiano.

A FIAT é uma das principais patrocinadoras da Juventus, propriedade da família Agnelli, tal como o fabricante automóvel, e é um dos principais financiadores da transferência milionária de Ronaldo para o clube italiano. O português transferiu-se para a "Vecchia Signora" a troco de um total de 112 milhões de euros e vai auferir um salário de 30 milhões por época, ao longo de quatro anos. Deste modo, o investimento total da Juventus na contratação de Ronaldo corresponde a 232 milhões de euros.

Greve é oportunidade. Nada contra Ronaldo

“Sabemos que não ganhamos nada com a greve, mas isso é igual em França, Espanha, Portugal, ou na Grécia. Mas somos escutados e temos a oportunidade de sensibilizar para a necessidade de uma consciência solidária”, começou por dizer De Stradis.

O dirigente sindical, que é um dos responsáveis pela greve dos trabalhadores, faz questão de esclarecer que a paralisação não é contra o jogador português: “Eu vi o Cristiano preocupado com os problemas na Palestina. O que ele não sabe é que numa fábrica italiana perto de Nápoles se suicidaram três pessoas que trabalhavam na FIAT, porque foram mandadas para casa por não haver trabalho”.

“Não fazemos greve pelos 100 euros que podiam pagar a mais. Fazemos pela paz, para que não se morra à fome. Não é possível que no mesmo planeta haja um rapaz de 33 anos a ganhar 30 milhões, e um pai de família com quatro filhos, que dá a vida porque não ganha mil euros. A greve não é contra o Cristiano Ronaldo, mas sim contra a sociedade que criou monstros. Criou 20 minutos diferentes no mesmo planeta”, continuou.

Domenico De Stradis acha inacreditável a decisão da FIAT de financiar a transferência do jogador português: “Não é possível que durante uma risa económica grave, e num setor como o automóvel, que vive grandes dificuldades, o proprietário do único grande construtor de automóveis de Itália invista centenas de milhões de euros num único recurso humano. É inaceitável”.

O FIAT Operário

A 1 de junho, a FIAT revelou o plano industrial e não apresentou qualquer modelo novo para entrar em produção. Questionado pela Renascença sobre se um modelo Fiat Ronaldo poderia resolver parte do problema, Domenico di Strada respondeu de forma curiosa.

“Ficaria feliz que se construísse um modelo Fiat Operário. Em vez de lhe chamarem Ronaldo, chamem Domenico, António, Angelo, Miguel. Com o nome dos operários, porque quem constrói os carros somos nós, não é o Cristiano. É justo que ele dê o nome a uma curva do estádio em que vai jogar, mas os carros devem ter o nome de quem os constrói”.

A greve dos trabalhadores da FIAT, convocada esta quarta-feira, vai decorrer durante dois dias, entre 15 e 17 de julho.