Crónica de uma noite de purpurinas e desalento
12-01-2020 - 09:11
 • Paula Caeiro Varela

Não foi uma noite eleitoral, foi um carrossel de emoções o que se viveu no hotel onde Luís Montenegro acompanhou os resultados das diretas.

Rui Rio acreditou que era possível. Luís Montenegro não queria acreditar. A velha máxima de que por um voto se perde e por um voto se ganha ficou evidente nesta noite eleitoral do PSD. Por 344 votos Rui Rio vai ter de ir à segunda volta.

Graças aos votos de Miguel Pinto Luz, Montenegro livrou-se (para já?) da derrota, mas não ganhou para o susto. Não foi uma noite eleitoral, foi um carrossel de emoções que ainda não deve ter parado de andar à roda para os apoiantes do antigo líder parlamentar.

Na entrada do hotel de 5 estrelas havia um perfume inebriante no ar. Era uma convenção da Oriflame (passe a publicidade), com direito a jantar de gala, vestidos longos, purpurinas e lantejoulas.

No bar, um pequeno grupo de apoiantes, incluindo Paula Teixeira da Cruz e Hugo Soares, aguardava os resultados, que chegavam quase sempre por telefone, antes ainda de serem publicados na página oficial do PSD.

Quanto mais avançam os números, mais pesado o ambiente. Rio a perder por poucos em Braga (terra de Hugo Soares); Rio a ganhar Aveiro, Rio a perder por poucos em Viseu (distrito do diretor de campanha), Rio a ganhar Bragança que eram favas contadas, Rio a não fazer mau resultado em Lisboa. Derrotas a somar a pequenas vitórias que não chegavam.

Nove da noite. Uma hora depois do fecho das urnas e o chão a fugir debaixo dos pés de Luís Montenegro, que nem se deixou ver. Entrou pela garagem, subiu de elevador. Péssimo sinal em noites de eleições, quem ganha quer aparecer.

Lá em cima, no 10.º andar, faziam-se contas. Cá em baixo também. "Se Miguel Pinto Luz ganhar aqui e se nós ganharmos ali..." ainda podia dar. Deu, mas foi por um triz.

Quando finalmente desceu ao piso -1, o inferno já não era ali.

Luís Montenegro colou na cara um sorriso e fez de conta que nem sabia das contas. Falou em vontade de mudança e somou os seus votos com os do terceiro. Dá mais 344 do que os de Rui Rio, suficientes para concluir que o PSD quer mais mudar do que continuar com o atual líder.

Pediu mais um debate "televisivo" para que haja clarificação na próxima semana e saiu sem querer responder a perguntas.

No fim da noite, entre abraços aos poucos apoiantes que não deixaram o candidato sozinho, ainda disse que acha que pode ganhar à segunda volta. Logo depois, no meio da confusão de jornalistas e câmaras e microfones, uma mesa alta de decoração caiu com estrondo. "Ui", gritou Luís Montenegro. "Está tudo bem", disse alguém.

Está mais ou menos.


[Artigo corrigido às 11h40]