Forças Armadas com metade dos recrutas necessários
03-03-2017 - 18:51
 • Ana Rodrigues

Em 2016, houve 11.189 candidatos, mas acabaram por ser incorporados apenas 3.906.

As Forças Armadas precisam de seis mil militares para substituir os que agora vão sair, mas o recrutamento não está a dar resposta. O ano passado entraram 3.906 militares, ou seja, pouco mais de metade do necessário.

As incorporações foram elevadas, comparando com anos anteriores, mas não chegam para as necessidades dos três ramos das Forças Armadas.

Em 2016, o número de incorporações foi o maior dos últimos cinco anos, mas não chega para aquilo que as Forças Armadas precisam. Houve um reforço significativo, mas é preciso repor os efectivos face às saídas registadas.

Nos últimos cinco anos as entradas foram reduzidas, especialmente na Marinha, onde durante três anos não houve qualquer incorporação.

O número de efectivos tem vindo a reduzir-se. O Ministério da Defesa refere que isso acontece por culpa do recrutamento, mas também por questões orçamentais.

O certo é que, agora, com o fim de contratos surge o défice de pessoal, explica à Renascença António Cardoso, chefe de Divisão de Recrutamento e Efectivos Militares.

“O problema aqui é a necessidade de recrutamento, que é completamente diferente dos anos anteriores. Estamos a falar do regime de contrato, em que todos os anos, sensivelmente, 2.000 a 2.500 jovens saem para a vida civil, devido à caducidade do tempo de permanência. Se esse efectivo não é substituído durante alguns anos e se eu tenho incorporações de 900, 1.000 e 1.500, é óbvio que há uma altura em que já não é possível manter o nível de incorporações como estava. O desafio é em 2016 e 2017 substituir 50% do efectivo em RC [regime de contrato], aproximadamente 5.000 a 6.000 militares”, afirma António Cardoso.

Uma nota do Ministério da Defesa refere que o quadro de pessoal nesta altura garante as missões das Forças Armadas, mas o certo é que, em entrevista à Renascença, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, reconheceu que os números do recrutamento eram preocupantes porque há uma incapacidade de atingir o objectivo de garantir umas Forças Armadas eficientes.

Em 2016, houve 11.189 candidatos, mas acabaram por ser incorporados 3.906, pouco mais de três mil só no Exército. Se compararmos com 2010, em que foram admitidos mais de 6.700, vemos uma diferença enorme que agora tem efeitos, refere António Cardoso.

“Esta necessidade de recrutamento atípica, que não tem paralelo com os últimos cinco anos, vai colocando um bocadinho a nu as fragilidades do sistema. Se o sistema gera 12 mil candidatos e precisa de incorporar 1.000, é uma coisa, mas se precisa de incorporar 3,000, já é outra. É este patamar que temos de resolver”, sublinha.

“Não podemos é deixar os sistemas como têm estado, porque se não há incorporações, não há divulgação. Por outras palavras, se as Forças Armadas não estão presentes enquanto entidades empregadoras e não aparecem no universo simbólico dos jovens, não são consideradas. É necessário apostar na maior presença das Forças Armadas junto dos jovens, já que precisamos de um maior número de necessidade de incorporação e de candidatos”, defende o chefe de Divisão de Recrutamento e Efectivos Militares.

O Governo e as Forças Armadas querem inverter esta situação e começar a engrossar as fileiras.

Segundo o Ministério da Defesa, o número de efectivos nas Forças Armadas é de pouco mais de 32 mil elementos, sendo que os militares em regime de contrato são pouco mais de 12.500. Em 2016 entraram mais 3.400 voluntários.

As incorporações por via de voluntariado ou contrato podem ocorrer até aos 27 anos. Para praças e soldados o ingresso acontece entre os 18 e os 24 anos.