Portuguesa em La Palma. "Todas as ruas e as casas estão cheias de cinza"
22-09-2021 - 23:00
 • João Malheiro

À Renascença, Paula Alexandra Ferro conta como foram estes dias desde a erupção do vulcão Cumbre Vieja. A habitante de La Palma, natural de Lisboa, avisa que a reação entre gases vulcânicos e a água pode gerar ácido sulfúrico.

Era por volta das 15h15. Paula Alexandre Ferro, de 59 anos, a viver em La Palma nos últimos cinco, estava a assistir televisão. Durante um direto, ela e muitos outros habitantes do arquipélago das Canárias assistiram ao evento que deixou milhares de pessoas desalojadas.

"Estava a ver uma reportagem. De repente, por trás da jornalista que fazia o direto, subiu o vulcão", conta, à Renascença.

A população local estava avisada, "com oito dias de antecedência", da possível atividade do vulcão Cumbre Vieja, mas ninguém previu que "entrasse em erupção de forma tão rápida".

"No domingo de manhã começaram a desalojar as pessoas com dificuldade de mobilidade, assim como quintas de gado", em antecipação da erupção, explica.

A língua de lava tem uma largura "de mais de um quilómetro" e a altura chega a ultrapassar os 15 metros.

E, apesar de já terem passado três dias, desde a erupção, Paula Alexandre Ferro diz ouvir constantes explosões vulcânicas "de dia e de noite".

A portuguesa diz estar "tranquila", por viver numa zona fora de perigo e com pouca probabilidade de vir a ser atingida pela lava.

No entanto, a cinza que se espalha pela por toda a ilha pode trazer outros riscos.

"Todas as ruas e as casas estão cheias de cinza. Temos de ter todas as janelas e as portas fechadas. E esperemos que não chova, porque aí sim teremos um problema. A reação que pode haver entre os gases e a água pode provocar ácido sulfúrico, entre outros", avisa, à Renascença.

A nuvem de cinza cobre todo o vale de Aridane, onde fica a maior cidade da ilha: Los Llanos de Aridane.

Para além disso, o terreno está a ser deformado, devido "a mais de 30 mil terramotos", provocados pela atividade vulcânica.

"O terreno deformou-se de ontem para hoje em mais de 18 centímetros", aponta a portuguesa.

Atualmente, não há problema com a água potável ou comunicações "salvo um ou outro caso", porém parte da ilha está dividida em duas partes, "pois as estradas e caminhos foram atravessados pela lava e é impossível aceder seja a algumas povoaçoes ja evacuadas assim como as imenssas plantações de bananas".

Paula Alexandre Ferro dá conta que já foram perdidas "mais de 300 habitações" e as autoridades locais referem que mais de 6.000 pessoas ficaram desalojadas.

"Há uma onda de solidariedade enorme para quem ficou sem casa. As autoridades estão a contactar os bancos, porque há muitas casas que lhes pertencem e podem ser usadas por essas famílias. Há muitas famílias que não ficaram só sem casa, ficaram mesmo sem o seu meio de vida", afirma, à Renascença.

A portuguesa a viver em La Palma diz não ter sido contactada pelas autoridades portuguesas, mas tem conhecimento de que o Estado já disponibilizou ajuda.

"Parece que estão a pensar em repatriar os portugueses que queiram voltar a Portugal. Aqui há alguns portugueses, mas não somos muitos", afirma.