​A desertificação em Espanha
01-04-2019 - 06:35

Em Espanha também se regista uma preocupante perda de população na maior parte do território. Mas a população residente no país não diminuiu, graças à imigração.

Ontem, em Madrid, dezenas de milhares de manifestantes reivindicaram serviços públicos de qualidade e mais empregos em zonas despovoadas. A Espanha está “vazia”, gritaram.

O governo espanhol avançou na sexta-feira com cerca de 80 medidas para combater a desertificação de uma grande parte do seu território. Essas medidas estão ainda numa fase de debate público, mas há algumas curiosas, como a instalação de quartéis do exército em localidades que perderam população. Outras são mais consensuais, como estimular o turismo rural e dar acesso à internet de banda larga a essas localidades.

Globalmente, e ao contrário do que se passa em Portugal, a Espanha não perdeu população, apesar da baixa natalidade. Ali a imigração mais do que que compensou essa baixa.

O problema demográfico espanhol é a crescente concentração dos seus habitantes numa pequena parte do território. 90% da população espanhola vive hoje em 30% do solo espanhol. A concentração populacional faz-se sobretudo na zona de Madrid e no litoral, atlântico e mediterrânico.

Um outro dado preocupante é o facto de, na última década, 63% das cidades espanholas com 20 mil a 50 mil habitantes terem perdido moradores. A perda de polução nos centros urbanos médios e pequenos leva, por arrasto, à desertificação das áreas circundantes às cidades, onde cada vez menos quem ainda lá vive tem acesso próximo a serviços essenciais.

E quanto mais pequeno é o município, mais gente o abandona. Por exemplo, 87% dos municípios com menos de mil habitantes perderam população nos últimos dez anos. É a desertificação.

Parece-me particularmente preocupante o despovoamento de cidades com dezenas de milhares de habitantes porque, no caso português, tenho defendido que o esforço de combater a desertificação do interior, para ser eficaz, deveria concentrar-se em cidades de média e pequena dimensão, dada a impossibilidade prática de manter aldeias.

Ora, consultando a evolução do número de habitantes por metro quadrado entre 2011 e 2015, parece que aquele fenómeno espanhol não se regista na maioria das nossas cidades do interior. De qualquer maneira, aí temos um alerta que nos vem de Espanha.