​Nós e a água
02-09-2022 - 06:30

Ainda não interiorizámos o imperativo de usar a água de modo mais eficiente. O Governo sugeriu a vários municípios que subissem o preço da água. Compreendem-se as resistências de várias câmaras. Água mais cara iria tornar a vida ainda mais difícil às famílias de baixos recursos.

Portugal é o segundo país europeu com maior consumo de água por pessoa. Cerca de 70% desse consumo vai para a agricultura. Daí a conveniência de promover culturas menos dependentes de água, pois sabemos que ela não será abundante no futuro. As alterações climáticas são uma realidade.

O problema está em não termos ainda interiorizado o imperativo de poupar água. Hoje, praticamente todas casas em Portugal dispõem de água canalizada. Não acontecia assim no passado.

Este progresso é positivo, claro, mas trouxe um novo relacionamento das pessoas com a água: parece um bem gratuito e de muito fácil acesso.

Quando abastecer de água uma família rural exigia um transporte muitas vezes penoso, as famílias tinham consciência do custo desse abastecimento. O que instintivamente levava a poupar água.

Ora o instinto atual aponta em sentido contrário. Pois se basta abrir uma torneira para logo a água correr... Isto, enquanto não forem aplicadas medidas e restrições drásticas no uso da água, que em breve poderão revelar-se necessárias.

A falta de mentalização para a poupança de água não é um problema nacional – é geral no mundo. A crescente urbanização é uma tendência mundial.

O Governo sugeriu a vários municípios que subissem o preço da água, que frequentemente se situa entre nós abaixo do custo de a captar e distribuir. Água mais cara levaria muitos consumidores a terem mais cuidado com o seu uso.

A maioria dos municípios aos quais foi dirigida aquela sugestão não aceita encarecer a água. Com a inflação a agravar brutalmente o custo de vida, percebe-se a relutância em juntar a água aos bens essenciais que sobem de preço.

Água mais cara iria tornar a vida ainda mais difícil às famílias de baixos recursos. Seria acentuar a injustiça social que a presente inflação representa para muita gente.

Assim, mentalizar os portugueses para o uso mais eficiente da água dependerá sobretudo de campanhas de sensibilização promovidas pelo Governo.

Para ser credível, o Governo terá de apoiar os municípios a travarem as perdas de água nas canalizações, que já andam pelos 30% em diversos zonas.

É pena que esse esforço de mentalização não tenha sido feito há anos. Mas mais vale tarde do que nunca.