De noite, o que ele faz com o seu computador tem muito mais impacto. Carrega em pequenos botões quadrados e no ecrã, pendurado na parede, vê-se o palco Mundo, do Rock In Rio, a mudar de cor. Se uma canção é mais alegre exigem-se cores mais rosas e alaranjadas, se for triste o azul cai sempre melhor. Quem o diz é Terry Cook, o homem que cria o espetáculo de luzes de todos os concertos em oito palcos no Rock in Rio. Quando batemos palmas, euforicamente, porque no momento mais poderoso do espetáculo as luzes acendem todas, também o aclamamos a ele, mesmo sem saber.
Terry Cook é inglês e entrou no mundo do entretenimento com o desejo de ser ator, só que não tinha talento, acabando por estudar design de palco e iluminação, a sua verdadeira vocação. Mal começou a trabalhar já estava a iluminar os concertos dos Rolling Stones, com quem trabalha até hoje, aliás, o sócio de Terry, Pattrick Woodrofe, é o empregado mais antigo da banda de Mick Jagger. Foi num desses eventos gigantes de música que Roberta Medina o conheceu e acabou por convencê-lo a juntar-se à equipa, tendo-se tornado numa das celebridades do grupo de trabalho do Rock in Rio.
Terry Cook contou-nos que o segredo é não inventar, fazer exatamente o que está combinado entre ele e a banda. Aqui essas combinações são feitas num pequeno estúdio, com sofás fofos, refrigerantes e bolos, onde Cook recebe os artistas para decidir o que vai acontecer no palco. Não saem de lá até que tudo esteja planeado, desde o primeiro ao último minuto do concerto. Quando isso não é feito pode haver desencontros. Terry ri-se com um episódio ocorrido num concerto de uma banda japonesa. Nada tinha sido combinado e as luzes foram seguindo o seu instinto, até ao momento que começa uma balada, em japonês, que ele achou que era triste, a encheu o palco de tímidos azuis. No fim a banda veio reclamar porque aquele que tinha sido o momento mais intimista para Cook, era na verdade alegre para a banda japonesa, já que a canção falava sobre flores.
Terry Cook é também responsável por todas as luzes do Rock In Rio Lisboa, onde já esteve em 2018, altura em que, diz-nos, o marcou a boa comida, a simpatia das pessoas mas, sobretudo, a luz de Lisboa, "Mais bonita do que a que qualquer foco lhe poderia dar".
Antes de sair para voltar aos seus botões coloridos, Terry Cook deixou mais dois segredos: O primeiro é que nada vale mais do que conhecer a profissão, trabalhar duro e conhecer as pessoas certas, o segundo é que, mesmo que o público aclame os momentos em que as luzes se acendem no palco, ele nunca pode esquecer que as palmas nunca serão para ele, mas sempre para o artista.
A Renascença no Rock in Rio a convite da organização.