Bolsonaro está em rutura com o PSL, oitavo partido da sua carreira
09-10-2019 - 19:52
 • João Pedro Barros com agências

Luciano Bivar, presidente do partido, diz que chefe de Estado "já está afastado". Casos de alegada corrupção podem ter determinado decisão.

Após especulações nas últimas semanas, falta apenas a confirmação oficial: Bolsonaro vai romper com o Partido Social Liberal (PSL), em que se filiara em 2018 e que já representava quandovenceu as eleições presidenciais, em outubro.

O cenário começou a desenhar-se na terça-feira, quando os jornalistas ouviram uma conversa entre o Presidente e um apoiante que se apresentou como pré-candidato pelo PSL em Recife. Bolsonaro pediu-lhe que esquecesse o partido e que não divulgasse um vídeo em citava Luciano Bivar, o líder do PSL e deputado, que estará "queimado".

Descuido ou manobra planeada? Não se sabe, mas a reação de Bivar, esta quarta-feira, foi imediata: para ele, o Presidente "já está afastado" do PSL e não pode ostentar a "dignidade" da força política.

"Quando ele diz a um estranho para esquecer o PSL, mostra que ele mesmo já esqueceu. Mostra que ele não tem mais nenhuma relação com o PSL", afirmou o dirigente partidário ao Broadcast Político do jornal “O Estado de S. Paulo”. A mesma publicação apurou junto do Palácio do Planalto, sede da Presidência do Brasil, que a vontade de Bolsonaro é mesmo a de abandonar o PSL.

A decisão de Bolsonaro poderá ter origem numa vontade de distanciamento de casos de corrupção na campanha do PSL nas eleições gerais de 2018, como a promoção, com o fundo público eleitoral, de candidaturas femininas falsas. O Ministério Público de Minas Gerais já denunciou o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, por irregularidades – o governante dirigia então o PSL local.

Por outro lado, a imprensa brasileira salienta que o Presidente poderá querer integrar-se num novo partido, que possa controlar com mais facilidade, tendo em conta a campanha para a reeleição, em 2022. Se aderir a uma nova força política, será a nona da sua carreira, que começou em 1989 no Partido Democrata Cristão, entretanto já extinto.

Apoio ao Governo não está em causa

A eventual confirmação da saída de Bolsonaro não tem qualquer impacto direto para o seu cargo, mas pode ter fortes consequências para o próprio PSL, que tinha um deputado antes das eleições de 2018 e tem agora 53 – é a segunda maior força legislativa, apenas atrás do Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula da Silva.

A saída de Bolsonaro deverá provocar uma debandada nas fileiras do PSL, com fontes ouvidas pelo “Estado de S. Paulo” a garantirem que 15 deputados federais e dois dos três senadores em exercício – incluindo Flávio Bolsonaro, filho do Presidente – poderão seguir o chefe de Estado.

Bivar diz não estar preocupado – "redução ou aumento da bancada não representa nada, o importante é manter a nossa linha de conduta e dignidade" – e garante também que o partido irá continuar a apoiar o Governo

"O que pretendemos é viabilizar o país. Não se vai alterar nada se Bolsonaro sair, seguiremos apoiando medidas fundamentais. Ele pode levar tudo do partido, só não pode levar a dignidade, o sentimento liberal que temos e o compromisso com o combate à corrupção", concluiu Bivar.