​Ministro sem rede
07-04-2016 - 21:30

Politicamente, as prometidas bofetadas de João Soares são um tiro no pé. Um erro espantoso num homem que anda há tantos anos na vida pública. Mas a veterania política não é salvo-conduto para todo o tipo de disparates; antes obriga a outra responsabilidade que o ministro não teve.

Se o Governo tivesse outra cor política, o que não se diria do ministro da Cultura que respondesse aos seus críticos, oferecendo-lhes um par de bofetadas? E o que não se escreveria, nessa altura, sobre a “direita trauliteira”?

Politicamente, as prometidas bofetadas de João Soares são um tiro no pé. Um erro espantoso num homem que anda há tantos anos na vida pública. Mas a veterania política não é salvo-conduto para todo o tipo de disparates; antes obriga a outra responsabilidade que o ministro não teve.

Mas há alguém que não erre, desde a mais direita das direitas, à mais esquerda das esquerdas? Todos erram, todos erramos. Difícil é reconhecer o disparate – sem a arrogância que esconde fraqueza, mas com a humildade que revela grandeza.

Mas nesta história há outro aspecto a reter. As redes sociais não são redes privadas. Aquilo que lá se escreve tem ou pode ter repercussão pública – social, profissional, económica ou política.

As redes sociais permitem uma nova forma de relação e de intervenção, e nessa medida são úteis. Mas o lixo que por lá abunda deve ser combatido. Durante anos a fio, os meios de comunicação foram acusados - tantas vezes com razão - de se imiscuírem na vida puramente privada dos cidadãos. Mas, ironia da evolução, a tal vida puramente privada é agora sistematicamente (auto)devassada nas redes sociais.

O deslumbramento ou a impreparação para lidar com as redes sociais não são, assim, um exclusivo de João Soares. Mas ele é ministro.