Fogos na Europa: as lições aprendidas
10-07-2019 - 12:57
 • Pedro Caeiro e Anabela Góis

Semana marcada pelo pedido desculpa aos portugueses por parte do comissário Europeu para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crises. Christos Stylianides reconhece que falhou a ajuda europeia no combate aos incêndios de 2017. Há dois anos, o primeiro avião de ajuda só chegou quatro dias depois do pedido de socorro de Portugal. Olhamos ainda para o resultado das eleições na Grécia e antecipamos o debate sobre o estado da Nação.

Dois anos depois dos trágicos incêndios, nos quais morreram mais de 100 pessoas, está operacional o novo sistema de ajuda do Mecanismo Europeu de Portecção Civil, o RescEU. E os meios aéreos foram apresentados esta semana, em Madrid.

Francisco Assis acha que “alguma coisa se aprendeu com o que se passou e reforçou-se muito a capacidade de resposta da Protecção Civil no âmbito europeu”. O eurodeputado socialista acha que estas declarações merecem reflexão, uma vez que é o reconhecimento de que havia falhas ao nível europeu.

Paulo Rangel, por seu lado, recorda um estudo de 2006, conduzido por Michel Barnier (então comissário europeu), que já falava na criação de uma força europeia de Protecção Civil. Foi algo que se foi arrastando e, na altura do incêndio de Pedrógão, o próprio Rangel terá questionado Juncker no debate sobre o estado da União. O eurodeputado do PSD diz que algo mudou para melhor, mas que devia haver uma verdadeira força europeia de Protecção Civil, com um corpo próprio de pessoal e meios, com três ou quatro bases, com especialidades, que poderiam estar espalhados pela Europa. Ainda assim, “deu-se um grande passo”, reconhece.

Grécia vira à direita

Com um novo Primeiro-ministro já em funções, os gregos deram maioria absoluta aos conservadores da Nova Democracia e penalizaram o Syriza de Alexis Tsipras. Foi um resultado que não surpreendeu o socialista Francisco Assis, que lembra que este resultado “vem trazer um factor de estabilidade aos gregos que é positivo”. Quanto às razões da derrota de Tsipras, “tem a ver com o pecado genético desta solução governativa, porque Tsipras apresentou-se aos gregos como alguém que ia acabar com a austeridade e rever a relação com a UE e alterou radicalmente esse ponto de vista face ao discurso inicial”. Ainda assim, Assis faz “uma avaliação muito positiva” da acção de Tsipras.

Para Paulo Rangel, “há uma evolução da esquerda radical dos tempos de Varoufakis, para deteriorar a situação grega nos seis meses seguintes”. O social-democrata lembra que “a situação grega inverteu-se, estavam a recuperar, mas a acção do então novo Governo levou a um terceiro resgate duríssimo” e, segundo Rangel, houve necessidade de descer à Terra e “Tsipras acabou por pagar o preço dessa atitude de responsabilidade”.

Em que estado está a Nação?

Num dia em que se debate o estado da Nação no Parlamento, Assis recorda que a solução política foi inédita, “nunca o PS tinha tido um Governo minoritário com o apoio da extrema-esquerda parlamentar e isso foi um dado novo que, consoante o ponto de vista, foi positivo ou negativo: mas revelou-se uma solução duradoura”. “É uma legislatura ligada à evolução da europa nos últimos 4 anos, que se seguiu a uma grave crise económica e social na Europa do Sul e a entrada numa nova fase também se fez sentir no nosso país. Houve uma alteração da perspectiva, mais positiva, mais confiante e isso foi positivo”.

Paulo Rangel lembra que o debate sobre o estado da Nação é anual e que aquilo que vai estar em discussão é, sobretudo, o último ano e “o último ano é simbólico dos quatro anos porque trouxe a verdade ao de cima”.

“O primeiro ponto positivo é a responsabilidade orçamental e para Portugal é fundamental ter as contas em ordem. A reposição de rendimentos foi sentida por todos, mas teve um preço: o empobrecimento e a falência dos serviços públicos. Antes de mais do Serviço Nacional de Saúde, que está insustentável do ponto de vista operacional. Mas também do ponto de vista dos serviços administrativos”. As demoras na atribuição das reformas, os problemas operacionais na Polícia, os serviços administrativos – de que o Cartão do Cidadão é um exemplo – são um retrato do país actual, afirma Paulo Rangel, que faz um balanço negativo.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus