Myanmar: Pelo menos 33 mortos no dia mais sangrento desde o golpe militar
03-03-2021 - 13:56
 • Hélio Carvalho

Desde o golpe de Estado que colocou o exército de novo no poder, já morreram dezenas de pessoas em protestos pró-democracia.

Myanmar acordou esta quarta-feira para mais uma manhã de protestos sangrentos. Morreram dezenas de pessoas em manifestações contra o golpe de Estado depois do exército ter voltado a usar fogo real contra os manifestantes e, segundo a Associated Press, foram contadas pelo menos 33 vítimas.

Além de pelo menos 33 mortos, a ação militar provocou dezenas de feridos e foram detidas centenas de pessoas em Yangon, a maior cidade do país e antiga capital quando este se chamava Birmânia. A contagem e identificação das vítimas está a ser feita de forma clandestina, através de meios independentes no local, para não motivar represálias por parte do exército.

Chegaram ainda relatos à agência Reuters de médicos agredidos e ambulâncias danificadas pelo exército, enquanto tentavam prestar socorro a manifestantes.

Desde o golpe de Estado de 1 de fevereiro, que devolveu o poder do país à Junta Militar, já morreram pelo menos 60 pessoas em protestos pró-democracia e foram detidas pelo menos 1.200. Depois da retaliação agressiva do exército, esta quarta-feira foi o dia com mais mortos em protestos desde o golpe de Estado.

A violência tem-se intensificado em Myanmar, apesar da comunidade internacional ter pedido à Junta Militar para não usar fogo real contra o povo. Na terça-feira, a Associação de Nações do Sudeste Asiático manifestou a sua preocupação pela situação no país e pediu a libertação da antiga chefe do Governo, Aung San Suu Kyi, mas o exército não pareceu escutar o pedido.

Os militares voltaram ao poder na antiga Birmânia depois de já terem controlado o país entre 1962 e 2011. Nesse ano, a prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, venceu as eleições democráticas e voltou a ser reeleita em novembro do ano passado, mas o exército alegou que o sufrágio teria sido fraudulento. O argumento serviu para deter Suu Kyi e vários líderes, e reinstaurar a ditadura militar.

Desde fevereiro, a Junta Militar tem oprimido violentamente protestos pró-democracia, prendeu jornalistas e ativistas, “desligou” o acesso à Internet no país e passou a controlar todos os meios de comunicação. Esta semana, Aung San Suu Kyi foi vista numa audição por teleconferência.

Apesar do risco de morte em cada manifestação, o povo não desarma e promete continuar a lutar pelo regresso à democracia que, até agora, teve pouco tempo de vida em Myanmar. À Reuters, o ativista Esther Ze Naw afirmou que os esforços dos que morreram não serão em vão e que os protestantes vão “continuar com esta luta e ganhar”.

O líder da Junta Militar, o general Min Aung Hlaing, prometeu que seriam realizadas eleições livres, mas não apontou previsões de qualquer data para.