​Bispo das Forças Armadas olha com receio para ataque dos EUA na Síria
07-04-2017 - 17:35
 • Ângela Roque

D. Manuel Linda diz que o conflito só se resolve com uma intervenção militar, desde que mandatada pela ONU. Mas olha com muitas dúvidas para o ataque lançado pelos Estados Unidos.

O bispo das Forças Armadas e de Segurança acompanha “com muita preocupação” a escalada de violência na Síria.

À Renascença, D. Manuel Linda começa por dizer que não é “analista militar”, mas, do que observa e segue do conflito, conclui que nem tudo é transparente.

Há muitos interesses em jogo entre os que combatem dentro da Síria e os que de fora dizem que querem ajudar, aponta. “Tenho medo que não seja o ataque com armas químicas que esteja agora no centro da questão, embora se diga que sim, mas uma ‘luta de galos’, desculpem a expressão. Ao fim ao cabo, também a Turquia não é tão inocente no caso como isso, a Rússia e os Estados Unidos”.

E acrescenta: “Os Estados Unidos estão a ter menos relevo naquela guerra tão estúpida, como todas as guerras são. E o facto é que quem está a fazer a luta contra o Daesh [o autodenominado Estado Islâmico] é, na prática, a Rússia.

O bispo receia que esteja em curso “um jogo de influências, que aproveitando-se de um facto deplorável possa levar a outros, porventura, ainda mais deploráveis”.

D. Manuel Linda vê, por isso, com preocupação o ataque lançado pelos Estados Unidos, mesmo que tenha sido justificado como resposta ao uso de armas químicas. Não tem dúvidas que parar este conflito implica uma intervenção militar, mas deve ser mandatada pelas Nações Unidas.

“Este conflito, que é um conflito armado entre o regime e a oposição, a oposição e o regime, é aproveitado por outros para tentar alargar a sua influência, que é o caso do Daesh. Quanto mais deixarmos evoluir este conflito armado, mais civis inocentes sofrem, e portanto há que lhe pôr cobro. Claro que não é com um discurso ou com uma pena de ave que se consegue resolver aquele problema, é com a existência de um outro exército, que saiba minimizar as acções destes exércitos em conflito, e de alguma maneira impor-lhes uma determinada ordem, uma ordem constitucional”, afirma.

Mas não devia essa intervenção ser coordenada entre vários países, para ter mais força e mais legitimidade? Para D. Manuel Linda, isso teria de passar pelas Nações Unidas.

“É evidente que se esperava que fosse da ONU. Mas, a ONU hoje, nesta fase da sua história, embora a gente espere que o novo secretário-geral lhe dê outro impulso, está enfraquecida”, afirma.

Esta pode ser uma prova de fogo para António Guterres, mas o bispo confia que o responsável português conseguirá mudar as Nações Unidas, para melhor. “Não se lhe pode pedir mais do que pode fazer neste pouco tempo em que lá está, mas acredito que vai deixar a ONU de uma forma mais correspondente aos anseios da humanidade do que a encontrou agora.”