Como economista apenas posso chamar a atenção para algo que do ponto de vista económico deve ser considerado anómalo.
Dois princípios básicos nesta matéria e com que muitos economistas, porventura a maioria, concordará são:
- em primeiro lugar, que num período longo e para além dos altos e baixos da conjuntura imediata, os salários reais, isto é, o valor dos salários descontado o crescimento dos preços, deve ser, no mínimo, igual ao crescimento da produtividade (normalmente considerado como sendo o valor do PIB por pessoa empregue). Isto, não só por razões de equidade, mas também de sustentabilidade da segurança social
- em segundo lugar, que os custos de eventuais necessidades de ajustamento da economia decorrentes da desequilíbrios macroeconómicos devem ser suportados de forma equitativa entre os diversos tipos de rendimentos.
Ora se olharmos para a evolução económica desde o início do século, para não irmos mais atrás, constatamos:
- que os salários reais cresceram significativamente menos que a produtividade, numa evolução que foi, neste aspeto, a pior da zona euro relativamente aos países que já participavam na União Europeia em 2000, com a exceção da Irlanda (que é caso único, em que a diferença de crescimento entre salários e produtividade resulta desta crescer muito rapidamente)
- que os custos dos ajustamentos recaem quase inteiramente sobre os salários e reformas, como se viu na crise de 2008-2013 e como provavelmente constataremos também na atual situação de inflação.
Porque será que isto acontece em Portugal?
Historiadores e sociólogos têm a palavra.