Segundo Joseph Grenny e seus colegas¹ , três elementos fazem a diferença: (i) existem opiniões divergentes, (ii) os riscos são altos e (iii) as emoções são proeminentes. O que torna conversas normais, cruciais, e não apenas aborrecidas ou frustrantes, é o impacto significativo do resultado nas nossas vidas. São situações que causam stress, e um passo em falso pode ter consequências sérias nas relações que compõem a nossa vida. Mas não tem de ser assim. Se souber como gerir de forma eficiente uma conversa difícil, poderá conversar sobre qualquer tema e resolver a situação.
Quando uma empresa familiar transita para a próxima geração, é necessário ter uma conversa que resulte na tomada da seguinte decisão: continuamos juntos, enquanto família empresária ou não? Diferentes membros da família podem adotar diferentes posições quanto à interpretação do que é o legado e os valores da família, o que pode resultar em conflito. Membros da mesma família, mas que tiveram experiências de crescimento muito diferentes ou relações difíceis, podem estar numa posição em que a reconciliação parece impossível.
Segundo Javier Macías², os conflitos familiares têm dois ingredientes básicos: 1) a necessidade de pertença 2) a necessidade de diferenciação. Uma precede a outra. Uma criança sente segurança em pertencer a uma família e precisa de ser amada, respeitada e valorizada. À medida que os adolescentes crescem, começam a desafiar essa segurança e diferenciam-se da família em busca de afiliação aos seus colegas da escola ou da comunidade. Quando atingem a idade adulta, os mais maduros conseguem encontrar um equilíbrio entre a sua individualidade e a família. Da negociação entre pertença e diferenciação, pode resultar em trabalhar na empresa familiar, não esquecendo de definir limites claros entre família e indivíduo, e entre família e negócio. Outras vezes, pode resultar no rompimento de relações comerciais enquanto mantém relações familiares bem-sucedidas à distância.
Um dos problemas na resolução de conflitos, passa pela dificuldade das partes em libertarem-se das suas posições. Isto é, se as pessoas estiverem presas a posições opostas, tendem a pensar que a luta ou o compromisso são as únicas saídas. No entanto, se comunicarem os seus "interesses" (as suas preocupações mais profundas e prioridades pessoais), cria-se a oportunidade de chegar a um resultado que funcione para todos. Para tal, devem mostrar interesse genuíno e fazer perguntas que permitam revelar essa informação.
Promover diálogos construtivos, saber gerir conflitos, saber gerir familiares ou ainda recorrer a coaching e mentoring como formas de crescimento pessoal são alguns dos temas cruciais para a longevidade de uma empresa familiar. Estes temas tornam-se ainda mais importantes quando pensamos que as empresas familiares representam cerca de 70% de todas as empresas europeias e são responsáveis por 85% da empregabilidade global. Há dois anos, a CATÓLICA-LISBON demonstrou pioneirismo quando inaugurou a primeira cadeira de licenciatura, em Portugal, dedicada à gestão de empresas familiares.
Atualmente, reitera esse compromisso ao realizar a segunda edição do “Family Business Day”. Após o êxito alcançado, a CATÓLICA-LISBON promove agora a discussão em torno do tema “Legados e Diálogos: Desvendando o labirinto da comunicação em empresas familiares”.
Quanto aos oradores convidados, fica evidente a preocupação em discutir o tema pelos vários prismas de análise. Incluem-se tanto membros de empresas familiares, como académicos e até consultores, tanto fiscais como familiares. Importa destacar que o evento não se direciona apenas a empresários, mas a todos os que se interessem pelos “bastidores” da maior parte dos grupos empresariais em Portugal e no mundo. Este seminário ocorre na próxima terça-feira, dia 7 de maio de 2024, no auditório 511 da CATÓLICA-LISBON e custa apenas o seu tempo. Se sente que pode ser um bom investimento, inscreva-se aqui!
1 - Conversations, C. (2002). Tools for Talking When Stakes Are High. 2nd ed, 2011.
2 - Kaye, K. (1992). The kid brother. Family Business Review, 5(3), 237-256
Os autores deste artigo são Liliana Dinis, Family Business Researcher at Católica Lisbon School of Business and Economics; e António Frade e Filipa Barnabé, Undergraduate Students at Católica Lisbon School of Business and Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics.