Onde está o povo? ou o Avante do tempo dos "quietos, confinados, calados e com temor"
04-09-2020 - 21:18
 • Susana Madureira Martins , Joana Gonçalves (vídeo e fotos)

Uma sexta-feira atípica para o que costuma ser o arranque da Festa do Avante, que marca a rentrée política do PCP, com muito menos gente na abertura de portas nas Quinta da Atalaia e do Cabo, no Seixal.

Por volta das três e meia da tarde a entrada da Quinta do Cabo, uma das entradas para a Festa do Avante, no Seixal, já prenunciava o que aí vinha: debaixo de um sol inclemente, meia dúzia de pessoas em frente ao gradeamento à espera das quatro da tarde para entrarem.

Dado o desconto, porque àquela hora ainda há muita gente a trabalhar e impedida de estar logo à porta da festa que marca a rentrée política do PCP, as horas foram passando e o cenário não melhorou.

A Alameda que dá acesso ao palco principal - palco 25 de Abril - e que no dia de abertura da Festa costuma estar à pinha fazia impressão, de vazia que estava em comparação com outros anos.

Passaram as horas e na altura da abertura oficial da Festa, um momento muito acarinhado pelo povo comunista, que se junta para ouvir a sempre curta intervenção do líder, mantinha-se uma largueza de espaço, apenas com algumas dezenas de pessoas sentadas nas cadeiras montadas em frente ao placo 25 de Abril para ouvir pelas colunas o discurso de Jerónimo de Sousa.

O líder comunista bem puxou pelo ânimo dos que estavam presentes e dos que ainda hâo-de vir, apelando a que se respeitem e cumpram "todas as medidas de protecção sanitária", que se use "a máscara de acordo com o recomendado", mas também que não se deixe que "tapem os olhos em relação à necessidade de continuar a estar e a lutar".

Exatamente à mesma hora que Jerónimo puxava pelas hostes, o Presidente da República como que boicotava o momento dos comunistas falando em directo com jornalistas à entrada de mais um jantar com autarcas do Algarve.

Quase em jeito de resposta, o líder comunista ferrava numa certa direita e nos que, segundo Jerónimo de Sousa, querem os comunistas "quietos, confinados, calados e com temor, porque sabem o que aí vem".

Críticas ainda para a Direção Geral da Saúde, que impôs à Festa regras "que vão para além das normas exigidas em qualquer espaço comercial, qualquer praia, actividade religiosa ou de rua e outras iniciativas – num espaço de 300 mil metros quadrados".

Nada disto levantou os ânimos dos comunistas presentes e, mais assinalável ainda, não houve a habitual emoção quando se ouviu a Internacional Socialista e mesmo a Carvalhesa, ambas canções que fazem levantar qualquer militante dos 7 aos 77 anos.

Nos próximos dois dias - sábado e domingo - os comunistas aguardam o (seu) povo, o tal que, mesmo vizinho da Festa, na Amora e em todo o Seixal, se encerrou em casa perante a contestação social, política e com meddo, claro, da pandemia.