Guterres defende "prioridade absoluta" à educação em Portugal
05-03-2016 - 12:00
 • Isabel Pacheco

Educação e cidadania foram as palavras-chave da segunda conferência “Olhar sobre a Educação” promovida pela Arquidiocese de Braga.

A aposta na Educação deve ser uma “prioridade absoluta” em Portugal e a exigência tem que começar em casa, foram algumas das ideias defendidas na segunda conferência “Olhar sobre a Educação”, promovida pela Arquidiocese de Braga, na última sexta-feira.

Os convidados foram o candidato a secretário-geral da ONU e ex-primeiro-ministro de Portugal António Guterres, o ex-ministro da Educação Marçal Grilo e o ex-ministro da Justiça Laborinho Lúcio.

Para António Guterres, a Educação deve ser “prioridade absoluta” e “condição indispensável” para que Portugal consiga ultrapassar o “atraso estrutural” do qual padece.

Fazer o contrário é um “erro”, garantiu o também ex-alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, que considerou fundamental o investimento no “software das sociedades”, aposta que, segundo António Guterres, deve manter-se uma “prioridade” mesmo quando o país atravessa dificuldades.

No entanto, o antigo primeiro-ministro socialista não está convicto que aquela seja a opção partilhada pela maioria dos portugueses.

“Continuo convencido que os portugueses não dão ainda suficiente prioridade e não têm suficiente exigência em relação ao poderes públicos e instituições em matéria de educação”, lamentou, apontando como exemplo do que um “investimento massivo na Educação” poder alcançar países como Singapura, Irlanda ou Coreia do Sul.

Para o antigo primeiro-ministro, que fez da educação a "paixão" do seu Governo, o investimento no ensino deve ter como “prioridade das prioridades” o pré-escolar. Um nível de escolaridade, defendeu, que deve integrar uma “componente educativa” e ser alargado a crianças com menos de três anos.

A ideia é partilhada por Marçal Grilo. O ex-ministro da Educação, no primeiro Governo liderado por Guterres, alerta para “os indicadores de retrocesso” naquele nível de ensino, fruto da crise económica que, explicou, “levou a condicionar as opções de muitas famílias por falta de recursos”.

O antigo responsável pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) pede que se olhe “com atenção” para a questão.

Do pré-escolar para os exames de avaliação

A questão foi levantada pelo antigo ministro da Justiça Laborinho Lúcio. “Francamente, testes de diagnóstico no primeiro dia de aulas, isto não é inconstitucional?”, ironizou o antigo magistrado, que defendeu uma “norma diversificada” que permita uma avaliação individualizada dos alunos e “não a mesma para todos no mesmo momento e à mesma hora”.

A Educação com base na autonomia e na solidariedade é um dos caminhos apontados pelo ex-ministro de Cavaco Silva, que sugeriu um modelo alternativo de formação. “E se formássemos a pensar para os direitos? Seria educar para os direitos, mas para os direitos do outro”, explicou.

Nas abertura da sessão, D. Jorge Ortiga, arcebispo primaz de Braga, lamentou que valores como a solidariedade, muitas vezes com origem na “esfera religiosa”, mesmo quando “reconhecidos por todos”, acabem por ser “esquecidos no quotidiano das relações”.

O também presidente da Comissão Episcopal para a Pastoral Social e Mobilidade Humana lembrou que, quando se fala de ensino, nem sempre a mudança é sinonimo de qualidade. “Quando se aceita passivamente determinações sem a conveniente envolvência do povo coloca-se em causa a estabilidade que pode não beneficiar os verdadeiros interessados, as crianças e os jovens”, apontou o prelado.

No mesmo sentido, Marçal Grilo sublinhou a urgência em estabelecer compromissos duradouros nas políticas de Educação para que aquelas “não mudem de quatro em quatro anos”, apelando a um “entendimento entre partidos políticos, organizações sindicais, associações de pais e professores, sociedades científicas, escolas privadas, autarquias e organizações de jovens e estudantes”.

As soluções devem ter em conta os interesses do país, ressalvou o ex-governante, para quem a Educação tem de ser “preocupação de todos” e deve começar em casa e com base numa “cultura da exigência”.

“Os pais devem ser exigentes com os filhos, os professores devem ser exigentes com os seus alunos e no fim os professores, pais e estudantes devem ser exigentes consigo mesmo”, concluiu.

[notícia actualizada às 19h11 de segunda-feira, 7 de Fevereiro]