Cruz Vermelha. “Não existem cidadãos ilegais"
16-06-2018 - 23:48
 • Catarina Santos , em Valência

Elhadj As Sy lembra que os migrantes estão “à procura dos valores europeus, como solidariedade e ajuda. Não lhes dar isso é uma traição aos valores europeus”.

Chega este domingo a Valência, em Espanha, o navio “Aquarius”, que Itália e Malta recusaram receber. Depois de uma semana no mar, 623 pessoas vão ser recebidas numa operação que envolve mais de 2300 pessoas.

A Renascença está a acompanhar os preparativos no porto de Valência.

Há caixas e caixas de alimentos que se alinham num armazém no porto da cidade e que estão a ser movidas para uma área mais reservada, onde desembarcarão os migrantes e refugiados.

Do outro lado da rua, frente à marina, há gente a passear e a apanhar sol como num sábado qualquer. Mas os migrantes que vão receber esta ajuda não estarão expostos a quem passa na rua. Este espaço é apenas um simulacro para explicar como vão decorrer as operações quando chegarem o “Aquarius” e os dois navios italianos que o acompanham (“Dattilo” e “Orione”).

José Sanchez, responsável da Cruz Vermelha pelo acolhimento de migrantes, acredita que está tudo a postos para o desembarque e primeira triagem apesar de ser a primeira vez que Valência recebe tanta gente de uma só vez.

“Só este ano já atendemos quase 10 mil pessoas na costa da Andaluzia, portanto não é como se fosse a primeira vez que fazemos isto. Temos as equipas prontas”, disse.

O secretário da Federação Internacional da Cruz Vermelha, Elhadj As Sy, veio a Valência de propósito para elogiar essa experiência.

“Na nossa perspetiva, não existem cidadãos ilegais. O que a Cruz Vermelha está a fazer e vai fazer amanhã está em sintonia com isso”, refere.

O representante da Cruz Vermelha internacional vê o caso do “Aquarius” como uma traição da Europa a si mesma.

“É muito lamentável que as pessoas venham para a Europa à procura dos valores europeus, como solidariedade e ajuda. Não lhes dar isso é uma traição aos valores europeus”, acrescenta.

Não é certo ainda como se vão distribuir pelo território espanhol as 629 pessoas que chegam este domingo. Mas o objetivo das autoridades é que o processo decorra com a maior brevidade possível, para que encontrem um lugar de acolhimento depois de terem passado uma semana em alto mar, à espera que alguém aceitasse recebê-los.

O “Aquarius” e os dois navios italianos que o acompanham devem começar a chegar a Valência depois das 6h00 da manhã locais.