​Ensino à distância: “Todos os dias recebo emails de pais que não têm computador”
05-02-2021 - 11:58
 • Manuela Pires

Em vésperas do arranque do ensino à distância, há muitos alunos sem computador para acompanhar as aulas em casa. No levantamento feito esta semana pelo diretor da escola Frei Gonçalo de Azevedo, no concelho de Cascais, há mais de 300 alunos sem equipamentos.

Dos primeiros computadores que chegaram no fim do primeiro período para os alunos que beneficiam da ação social escolar, o agrupamento de escolas Frei Gonçalo de Azevedo, no concelho de Cascais, recebeu pouco mais de metade.

“Foram previstas para esta primeira fase da escola digital a atribuição de computadores a 485 alunos, mas só recebemos 299, ou seja 62%. E estamos a falar de alunos do escalão A e B do primeiro ciclo ao secundário”, revela o diretor da escola, David Sousa, em declarações à Renascença.

Na contagem decrescente para o arranque, já na segunda-feira, de um novo período de aulas não presenciais, a escola voltou a fazer um levantamento das necessidades.

O diretor confessa que todos os dias recebe emails de pais a informarem que não têm computadores para os filhos acompanharem as aulas.

“Temos neste momento 325 alunos sem computador”, remata David Sousa, que acrescenta que a escola e a Câmara de Cascais estão a tentar resolver esta situação.

“Não podemos ter alunos de 10 anos durante 8 horas à frente de um computador"

O agrupamento Frei Gonçalo de Azevedo integra seis escolas com alunos desde o pré-escolar até ao ensino secundário, num total de perto de dois mil alunos.

Logo no arranque do ano letivo, em setembro, a escola adotou um plano de retoma das aulas presenciais que assentou na avaliação que foi feita pelos pais e pelos alunos, e que previa já uma componente com meios digitais para preparar a escola para a possibilidade de alunos ficarem infetados e terem de ficar em isolamento.

Agora, com os estabelecimentos de ensino encerrados, a escola definiu um plano que privilegia o trabalho autónomo dos alunos associado a aulas síncronas, ou seja, que acontecem em direto através dos meios digitais.

“Os professores fazem uma planificação semanal que tem em conta o horário que a turma tinha em ensino presencial. É aqui que vão ser lançados os recursos e as tarefas que os alunos devem fazer”, conta o diretor do agrupamento Frei Gonçalo de Azevedo.


Nesta escola, o conselho pedagógico decidiu que haveria uma sessão síncrona por semana e por disciplina, mas nos ensinos secundário e profissional essas sessões vão aumentar.

“Não podemos ter alunos de 10, 12 anos de idade durante oito horas à frente de um computador, porque não tem qualquer eficácia”, conclui o diretor David Sousa.

A escola vai acompanhar de perto o trabalho dos alunos. Todas as semanas há reunião com a diretora de turma e quinzenalmente uma reunião com os pais para se fazer uma avaliação do que trabalho que está a ser feito.

David Sousa reconhece que, desta vez, o ensino à distância é mais um desafio pedagógico do que tecnológico.


Nesta escola foi feita uma gestão diferente dos currículos e vai ser valorizada avaliação formativa.

“É uma grande mudança nas escolas que o ensino à distância trouxe, são novas aprendizagens quer do ponto de vista dos currículos que vão ficar para o futuro”, conclui David Sousa.

O ensino à distância é retomado na segunda-feira, 8 de fevereiro, depois de as aulas terem sido suspensas a 22 de janeiro, devido ao avanço da pandemia de Covid-19.

O Governo aprovou, na quinta-feira, a "compra imediata" de 15 mil computadores em vésperas do regresso ao ensino à distância, avançou o Ministério da Educação. O investimento está orçado em 4,5 milhões de euros.

O gabinete do ministro Tiago Brandão Rodrigues adianta que está a fazer todos os esforços, junto dos fornecedores, para que “a entrega de 335 mil computadores já comprados aconteça dentro dos prazos contratualmente previstos”.