TAP precisa de "uma garantia estatal" para se financiar
18-04-2020 - 11:23

No setor da aviação o impacto da Covid-19 "é brutal e a TAP não foge à regra", reconhece David Neeleman, que com o empresário Humberto Pedrosa, detém o consórcio Atlantic Gateway - dono de 45% do capital da companhia aérea.

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O empresário David Neeleman diz estar "totalmente disponível" para colaborar com o Governo numa solução para a TAP, mas que a companhia tem propostas competitivas para se financiar e que o que precisa é de "uma garantia estatal".

Em declarações à Lusa, David Neeleman, que com o empresário Humberto Pedrosa, detém o consórcio Atlantic Gateway - dono de 45% do capital da TAP -, começou por considerar que Portugal está "a reagir muito bem" à Covid-19, "graças às medidas sanitárias e económicas definidas e implementadas em tempo pelo Governo e seguidas por toda a população e empresas".

"Vi com satisfação que o Governo português não só se preocupou com o tema da saúde, como desde cedo lançou incentivos à economia portuguesa onde a garantia estatal foi uma das principais medidas de apoio às PME [pequenas e médias empresas], bem como o 'lay-off' simplificado (suspensão do contrato ou redução do horário de trabalho) a que a TAP aderiu", afirma.

No setor da aviação o impacto da Covid-19 "é brutal e a TAP não foge à regra", pois tem 95% dos aviões em terra e 90% dos colaboradores em casa, lembra, reforçando que, "mesmo as maiores e mais robustas empresas de aviação, estão com enormes desafios".

Não fora esta conjuntura, a TAP - que "conseguiu construir uma posição de tesouraria forte em 2019, a melhor da sua história, tendo terminado o ano com 435 milhões de euros em caixa" - iria conseguir "encarar o ano de 2020 com tranquilidade", refere.

No entanto, no contexto das restrições, entretanto impostas pela pandemia, David Neeleman diz que "imediatamente" a TAP contactou "investidores europeus e de outras geografias no sentido de obter suporte financeiro adicional" para encarar os efeitos negativos desta crise e que, "de modo geral, os investidores mantêm o interesse em financiar a TAP, tendo apresentado propostas de financiamento bastante interessantes e competitivas, com garantia do Estado".

"Entre os diversos mecanismos disponíveis de apoio de Estado, a emissão de uma dívida garantida é o que vem sendo adotado com mais frequência pelos nossos concorrentes por ter uma série de vantagens, entre elas o tempo de execução que nesse momento é crucial para a TAP", assegura o empresário.

"Importa lembrar que, desde a privatização, o Estado não teve de colocar um euro na TAP e que agora, apesar das enormes dificuldades, o que precisamos é de uma garantia estatal para um financiamento e não um empréstimo direto do Estado", sublinha.

Esta semana, tanto o ministro das Finanças, Mário Centeno, como o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, admitiram a nacionalização da TAP como uma das possibilidades de viabilizar a companhia.

Na quinta-feira, o presidente do Conselho de Administração da TAP, Miguel Frasquilho, afirmou no parlamento que a transportadora "já endereçou um pedido de auxílio ao Estado português", tendo expectativa de que uma resposta possa ser conhecida "muito em breve".

"Mais do que nunca, todos temos de colaborar para que a TAP volte a voar assim que o espaço aéreo abrir", refere David Neeleman.

O Grupo TAP registou prejuízos de 105,6 milhões de euros em 2019, uma melhoria de 12,4 milhões de euros face às perdas de 118 milhões registadas em 2018.

Para além dos 45% dos privados da Atlantic Gateway, a TAP é detida em 50% pelo Estado, através da Parpública, e em 5% pelos trabalhadores.