Promessa de ​"bofetadas" leva deputado do PSD a pedir a demissão de João Soares
07-04-2016 - 12:17
 • Pedro Rios

Vice-presidente da bancada parlamentar diz que ministro da Cultura só tem esse caminho. Outro deputado critica declarações "verdadeiramente inqualificáveis" e que demonstram um "padrão" no PS.

O vice-presidente do grupo parlamentar do PSD Sérgio Azevedo pede a demissão do ministro da Cultura, João Soares, que prometeu “salutares bofetadas” a dois críticos da sua política.

“Um ministro (sim com m pequeno, minúsculo) que promete 'bofetadas' a um crítico, para além de ser um tipo pequenino, só tem um caminho: a demissão!”, escreve o deputado no Facebook.

Pelas 12h30, no Parlamento, o deputado do PSD Hugo Soares afirmou que as declarações de Sérgio Azevedo foram feitas a título pessoal e não vinculam o partido. Mas criticou as declarações "verdadeiramente inqualificáveis" do ministro.

"São inqualificáveis tanto mais porque demonstram o padrão do PS na reaçcão às críticas legítimas que lhe são feitas", afirmou.

O deputado do PSD frisou que o primeiro-ministro, António Costa, "chegou a enviar SMS para jornalistas criticando quem tem o dever de fazer o comentário político e as notícias". Uma referência ao episódio polémico da mensagem enviada por Costa a João Vieira Pereira, director-adjunto do "Expresso".

Contactado pela Renascença, o gabinete do ministro da Cultura remeteu para mais tarde eventuais esclarecimentos sobre o caso.

Críticas à direita e à esquerda

No Facebook, José Ribeiro e Castro, ex-líder do CDS, escreve que "há erros fatais, erros que não descolam mais. Além do despautério, este é um bom exemplo de erro fatal."

As críticas a João Soares surgem também à esquerda. O comentador Daniel Oliveira diz que “um ministro que ameaça fisicamente quem o critica não pode ser ministro”.

“Depois deste post João Soares tem de se demitir, António Costa tem de se demarcar desta ofensa à democracia e os partidos que sustentam o governo têm de ser muitíssimo claros. Não há inimputáveis em política e se permitimos que a ameaça física passe a ser a forma dos governos reagirem à crítica tudo é possível”, escreve no Facebook o comentador do “Expresso” e da SIC Notícias.

Na mesma rede social, o deputado do Bloco de Esquerda José Soeiro é mais parco em palavras: “Umas bofetadas? O homem passou-se...”

"Salutares bofetadas"

João Soares acusou esta quinta-feira, através do seu perfil pessoal no Facebook, o crítico cultural Augusto M. Seabra de escrever “calúnias”, prometendo-lhe umas “salutares bofetadas”. Vasco Pulido Valente, também colunista do "Público", é igualmente alvo da promessa de João Soares.

“Em 1999 prometi-lhe [a Augusto M. Seabra] publicamente um par de bofetadas. Foi uma promessa que ainda não pude cumprir. Não me cruzei com a personagem, Augusto M. Seabra, ao longo de todos estes anos. Mas continuo a esperar ter essa sorte. Lá chegará o dia. Ele tinha, então, bolsado [bolçado] sobre mim umas aleivosias e calunias. Agora volta a bolsar [bolçar], no ‘Público’”, escreve o ministro.

Em causa está o texto que Augusto M. Seabra assinou na edição de quarta-feira do “Público” , com o título “’Tempo Velho’ na Cultura”.

“A nomeação de João Soares para ministro da Cultura foi uma surpresa que permanece inexplicável já que passados quatro meses não afirmou uma linha de acção política, tão só um estilo de compadrio, prepotência e grosseria. De resto, não tinha qualificações particulares para o cargo”, argumenta o crítico e sociólogo.

Augusto M. Seabra classifica João Soares como um “derrotado nato – perdeu as eleições autárquicas em Lisboa e em Sintra e para secretário-geral do PS – mas também um caso de obstinação”.

“Que um governante se rodeie de pessoas de confiança é óbvio. Mas no caso do gabinete de Soares trata-se de uma confraria de socialistas e maçons”, refere ainda Seabra. “A isto se chama amiguismo, o gesto mais clamoroso sendo a nomeação de um velho apparatchik, Elísio Summavielle, para o CCB, em lugar de António Lamas”.

Vasco Pulido Valente: PS atura Soares por "caridade"

João Soares cita “uma amiga” para criticar o crítico: "Eis o verdadeiro vampiro, pois alimenta-se do trabalho (para ele sempre mau) dos outros." E conclui: “Estou a ver que tenho de o procurar, a ele e já agora ao Vasco Pulido Valente, para as salutares bofetadas. Só lhes podem fazer bem. A mim também."

Vasco Pulido Valente escreveu a 4 de Abril um texto crítico da forma como António Lamas foi demitido do CCB.

"O ministro podia ter chamado discretamente o director do CCB para o demitir, alegando, como está no seu direito, falta de confiança política ou pessoal. Mas João Soares preferiu fazer do incidente um espectáculo público. Ameaçou o dr. Lamas, exibiu os seus poderes (que lhe vêm exclusivamente do cargo) e no fim ainda se foi gabar para a televisão. Não se percebe o motivo de toda esta palhaçada, excepto se pensarmos que ele é no governo um verbo-de-encher e que o PS o atura por simples caridade", escreve.

"Como o dr. João Soares muito bem sabe, não tenho por ele qualquer respeito nem como homem, nem como político", refere Pulido Valente.