Ucrânia. EUA admitem invasão russa no fim de semana e aconselham Zelensky a permanecer no país
18-02-2022 - 20:18
 • Renascença

Correspondente da NBC na Casa Branca cita fontes que dão conta da preocupação da administração norte-americana com a possibilidade de a Rússia avançar com uma ofensiva em solo ucraniano, aproveitando a ausência do presidente ucraniano para participar na Conferência de Segurança de Munique.

Os serviços de inteligência norte-americanos avisaram o presidente da Ucrânia que a invasão russa poderá acontecer já este sábado e aconselham Volodymyr Zelensky a permanecer no país.

Em causa está a participação do presidente ucraniano na Conferência de Segurança de Munique, onde Zelensky tem presença agendada.

Através do Twitter, o correspondente da NBC, na Casa Branca, Peter Alexander indica que “a administração Biden está preocupada com a saída do presidente ucraniano Zelensky do seu país durante o fim de semana para participar da Conferência de Segurança de Munique, onde se deverá encontrar pessoalmente com a vice-presidente Kamala Harris”.

Na publicação, Alexander sugere que Vladimir Putin “poderia explorar a ausência de Zelensky do país” e o presidente da Ucrânia ainda estará a ponderar se se desloca ou não a Munique.

Com a tensão a crescer a cada hora, e numa altura em que se multiplicam imagens que indiciam uma cada vez maior concentração de tropas russas na linha de fronteira com a Ucrânia, Joe Biden volta a fazer um ponto de situação sobre a escalada de tensão no Leste europeu numa conferência de imprensa esta sexta-feira, às 21h00 (hora portuguesa, 16h00 em Washington).

Os Estados Unidos estimam que, neste momento, a Rússia tem provavelmente entre 169.000 e 190.000 soldados destacados dentro e junto à fronteira da Ucrânia, muito acima dos cerca de 100.000 a 30 de janeiro, indicou o representante permanente norte-americano na OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa), Michael Carpenter.

As autoridades norte-americanas e europeias estão em alerta máximo para quaisquer tentativas da Rússia para criar um pretexto para uma invasão da Ucrânia.

Donbass à beira da guerra, avisa líder de Donetsk

Denís Pushilin, líder da autoproclamada República Popular de Donetsk (DPR), disse esta sexta-feira que a situação na região ucraniana do Donbass está "à beira de uma guerra".

Em entrevista ao canal de televisão Rossiya-24, o líder de Donetsk respondeu afirmativamente, quando questionado se a situação no Donbass está a aproximar-se de uma guerra em grande escala.

Nas últimas horas ocorreram graves violações do cessar-fogo estabelecido em 2015, ao abrigo dos Acordos de Minsk, no leste do país.

Os separatistas das regiões de Lugansk e Donetsk relataram mais bombardeamentos por forças ucranianas ao longo da tensa linha de contacto, onde um civil ficou ferido e várias instalações civis foram danificadas.

Bombardeamentos foram ouvidos esta sexta-feira perto de Stanytsia Luganska, cidade no leste da Ucrânia sob controlo das forças do Governo, segundo jornalistas no local, que foi alvo de bombardeamentos na quinta-feira.

De acordo com jornalistas da agência francesa de notícias AFP, os bombardeamentos eram audíveis nesta localidade da linha da frente que separa militares ucranianos e separatistas pró-russos, onde na quinta-feira foi atingida uma creche onde se encontravam 20 crianças e 18 adultos.

Segundo o exército ucraniano, a cidade foi atacada por 32 projéteis, ficando parcialmente sem eletricidade.

O exército ucraniano e os separatistas têm-se acusado hoje mutuamente de novos ataques no leste do país, tendo as autoridades ucranianas relatado 20 violações do cessar-fogo por separatistas durante a noite, enquanto os rebeldes pró-Rússia referiram ter contabilizado 27 ataques pelo exército ucraniano.

Kiev pede condenação internacional de "provocações" russas no Donbass

O Governo ucraniano pediu esta sexta-feira à comunidade internacional a condenação "imediata" das "provocações" da Rússia e dos separatistas pró-russos em Donbass, reiterando que não tem intenções bélicas em Donetsk e Lugansk.

"Pedimos à comunidade e às organizações internacionais que condenem imediatamente as provocações realizadas pela Rússia e pelas suas administrações de ocupação em Donbass, que minam o processo para uma solução político-diplomática", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, em comunicado.

A diplomacia ucraniana sublinhou que os cidadãos vivem em ambos os lados da linha de separação e insistiu para que para seja garantida a paz a essa população.

"As alegações de que as autoridades ucranianas pretendem lançar uma ofensiva nos territórios temporariamente ocupados das províncias de Donetsk e Lugansk são falsas", disse o Ministério, assegurando que a Ucrânia "não realiza ou planeia qualquer sabotagem" na região de Donbass.

Kiev criticou ainda "as tentativas da Rússia de agravar a já tensa situação de segurança" e reiterou o seu apoio a uma solução político-diplomática, aproveitando para acusar Moscovo de lançar campanhas de desinformação.

As violações do cessar-fogo no leste da Ucrânia aumentaram nas últimas horas, com o uso de armas proibidas pelos acordos de Minsk, enquanto ambas as partes se responsabilizam pelo desrespeito dos tratados.

Representantes da autoproclamada República de Donetsk anunciaram hoje o início da retirada de parte da população local para a Rússia, alegando o perigo de combates nesta região.

De acordo com as autoridades de Donetsk, citadas pela agência russa Interfax, mais de 700.000 moradores da região estão a ser deslocados para a Rússia.

Por sua vez, o comandante das Forças Armadas ucranianas, Valeri Zaluzhni, pediu à população das regiões de Donetsk e Lugansk não controladas por Kiev para não acreditar nos rumores sobre uma ofensiva do Exército ucraniano.

"Não acreditem nas mentiras das autoridades de ocupação! Eles estão a usar-vos para agravar a situação", alertou Zaluzhni, na sua página da rede social Facebook, negando as informações divulgadas pelas forças separatistas sobre tentativas de sabotar as infraestruturas das repúblicas pró-russas.