A ameaça aos vulneráveis… Um dia seremos nós!!
07-02-2020 - 18:56

Aquilo que nos acrescenta enquanto seres verdadeiramente humanos vai, progressivamente, sendo substituído por uma cultura imediatista do prazer, do belo e do útil, onde, progressivamente, os frágeis e os vulneráveis deixam de ter lugar.

Esta semana, era previsível que este artigo fosse sobre a eutanásia. De facto, esta injustificada pressão do parlamento sobre o país no sentido de aprovar (ou despenalizar), para já na generalidade, a eutanásia e o suicídio assistido é verdadeiramente inaceitável. Além disso, os resultados do estudo efectuado nos Países Baixos (Holanda) no sentido de modificar a lei da eutanásia incluindo, como possibilidade para o suicídio, a disponibilização de um fármaco para os “cansados de viver” são, no mínimo, alarmantes.

No entanto, tantos que, como eu, têm lido múltiplos textos sobre a eutanásia e sobre este suposto direito a “morrer com dignidade” não podem deixar de sentir uma sensação que varia entre a repulsa e a estupefação quando nesta mesma semana foi noticiada a morte de Yan Cheng. Esta criança tetraplégica foi abandonada à sede e à fome, e acabou por morrer uma semana depois de o seu pai e o seu irmão terem sido isolados num hospital de Hubei, epicentro do surto de coronavírus. Segundo os jornais, as autoridades terão alimentado a criança apenas duas vezes durante esse período. Quando tantos protestam pelo direito de ser ajudado a morrer, de facto, àquela criança foi-lhe negada ajuda para poder viver. Triste metáfora da nossa situação; uma sociedade capaz de construir um mega-hospital em oito dias, mas incapaz de manter uma matriz mínima de humanidade com aqueles mais frágeis da sociedade.

E este será sempre o caminho nos países que aprovam a eutanásia e o suicídio assistido... Como o estudo holandês parece revelar, começamos com os doentes terminais e deslizamos, rapidamente e irreversivelmente, para a morte daqueles que somos incapazes de cuidar e dos cansados de viver. Esta tentativa desenfreada de escamotear aquilo que são os valores da Europa, e aqui não podia deixar de lembrar o Mestre Steiner, a família, a solidariedade e todos os outros valores que resultam de uma marcada e indelével influência judaico-cristã, mudará radicalmente a forma como cada um de nós e o país sente o dever de cuidar dos seus vulneráveis. Em vez do grito angustiado dos dependentes que muitos de nós se habituaram a ouvir na forma “não quero dar trabalho, ponham-me num lar!” passará a ser “não quero dar trabalho e por isso vou pedir para ser morto” ou, então, como parece ser a proposta a apresentar nos Países Baixos, “não quero dar trabalho, ou não quero viver sozinho, ou não quero ser velho e pobre…e, por isso vou-me matar com a ferramenta que o estado me proporcionou para esse fim!”

Aquilo que nos acrescenta enquanto seres verdadeiramente humanos vai, progressivamente, sendo substituído por uma cultura imediatista do prazer, do belo e do útil, onde, progressivamente, os frágeis e os vulneráveis deixam de ter lugar; isto terá certamente consequências desastrosas para a forma não só como morreremos, mas, essencialmente, e mais importante, na forma como vivemos.