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A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, diz que não sente qualquer pressão do primeiro-ministro para apresentar resultados na área que tutela.
Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal "Público", afirma que a maior "pressão" que sente "é pelas pessoas que todos os dias têm dificuldade em encontrar habitação a preços compatíveis com os seus rendimentos".
A ministra estende a responsabilidade pelo plano "Mais Habitação" a todo o Governo. "Somos um Governo, somos um coletivo, trabalhamos todos para o mesmo fim".
O primeiro-ministro apresentou este pacote de Habitação ao seu lado e ao lado do ministro das Finanças. Não se sentiu relegada para segundo plano?
Não, de todo. O Governo é um só e fazemos este trabalho em equipa. Até podíamos ter lá mais ministros que contribuíram para este pacote legislativo e que foram parte importante na sua concretização. O primeiro-ministro esteve com dois ministros que fizeram parte deste pacote legislativo. Temos medidas que têm não apenas concretização direta da tutela financeira e aquilo que são as áreas de intervenção do Ministério das Finanças, mas todo este pacote legislativo tem também uma componente orçamental e uma componente que é importante ressalvar. Mas temos o crédito à habitação aqui, temos um conjunto de incentivos fiscais. Mas, verdadeiramente, este é um pacote legislativo do Governo, que assumimos coletivamente.
Temos muito esta ideia de que quando vai um secretário de Estado ao Parlamento e não um ministro estamos a desvalorizar o debate. Não estamos de todo a desvalorizar o debate. O Governo é mesmo um só, falamos a uma só vez. Se vai um secretário de Estado falar sobre um tema, falará com a mesma convicção com que falará um ministro e um primeiro-ministro, porque somos uma equipa e funcionamos como tal. Até digo o contrário. Termos três ministros a apresentar um pacote para a habitação é valorizar o assunto de forma colectiva e percebermos que a habitação é mesmo uma prioridade.
Não é do ministério, é da ministra.
Digo isto com total convicção. O Governo é um só, estamos lá a apresentar um pacote legislativo como um só e felizmente temos esta capacidade de trabalhar em conjunto para definirmos medidas em prol de uma área que tutelo directamente, mas que tem intervenção de quase todas as áreas governativas.
Saindo Pedro Nuno Santos do Governo, ficou Marina Gonçalves, e também João Galamba saltou para ministro. Aceita a leitura política de que o primeiro-ministro fez uma escolha estratégica ao promovê-la a ministra da habitação para não erradicar uma linha política - o pedronunismo - do Governo? Ou isso é menorizar o seu papel?
É menorizar o meu papel. Eu era secretária de Estado da Habitação, não vim agora para a área da habitação. Já acompanhava esta área, acompanhava com Pedro Nuno Santos, fazíamos um trabalho em parceria, mas eu era secretária de Estado da Habitação. O meu trabalho como secretária de Estado continua agora como ministra da Habitação, ele não muda e a linha não muda. Fazer esse entendimento é menosprezar a linha que vínhamos seguindo e já agora o facto de eu ser secretária de estado da habitação e ser uma continuidade do trabalho que está em causa.
Não foi uma questão de manter esses equilíbrios dentro do Governo?
Eu gosto de pensar que a minha escolha foi porque efetivamente o trabalho à frente da Habitação era para continuar com alguém que já estava à frente da área, como secretária de Estado e agora passando a ministra, numa área que se autonomizou como ministério e que, portanto, tem aqui um novo relevo nas prioridades governativas.
É esta a visão que devemos todos ter no porquê de se ter autonomizado o ministério da Habitação e ter-se mantido uma linha de continuidade com o trabalho que estava a ser feito pelo ministro das Infraestruturas e da Habitação, mas também pela secretária de estado da Habitação e que continuará com o ministério da Habitação.
Em janeiro, em Coimbra, António Costa, como secretário-geral do PS, numa comissão nacional, deu-lhe a si três meses para ter novos instrumentos e dar execução à política de habitação. Esses instrumentos surgiram ainda mais cedo do que esses três meses. Sente-se pressionada a mostrar trabalho ao primeiro-ministro?
A minha maior pressão, onde eu me sinto pressionada, é pelas pessoas que todos os dias têm dificuldade em encontrar habitação a preços compatíveis com os seus rendimentos. Essa é a pressão do meu trabalho, que já existe desde o dia em que iniciei funções como secretária de estado da habitação. Essa é a maior pressão que tenho para o meu trabalho. Quando digo que é a minha maior pressão, é também a pressão que temos enquanto Governo. Apresentamos este pacote legislativo no momento em que achamos que tínhamos condições para o apresentar. Essa pressão é coletiva pela urgência da resposta. Mas sinto essa pressão. Não é de mostrar trabalho, porque se não estamos a menorizar a pressão que é colocada, mas sobretudo aquilo que dizemos.
Não viu um desafio do primeiro-ministro?
É um desafio, claro que sim. Mas é um desafio importante que nós, colectivamente, não apenas o assumimos, como já apresentamos aqui uma primeira proposta. Se o prazo foi de três meses, se foi um mês e meio, se foi uma pressão que foi colocada para mostrar trabalho, é importante colocar isto no sítio onde deve ser colocado, seja pelo que o primeiro-ministro disse, seja pelo que eu disse.
Aquilo que nós temos de mostrar é resultados naquilo que é uma preocupação coletiva e uma urgência nacional, que é garantir o direito à habitação. Esse sim deve ser o nosso foco, a nossa pressão no trabalho que fazemos e a nossa responsabilidade. Foi com essa base que fizemos este trabalho.
É muito próxima de Pedro Nuno Santos, é sabido que tem pretensões políticas a ser candidato a líder do partido. Isto coloca mais pressão sobre Marina Gonçalves em relação a outros ministros? Tendo em conta todo o histórico de relações do primeiro-ministro com Pedro Nuno Santos?
O meu foco, neste momento, é o trabalho que estamos a fazer e este pacote de medidas tão grande. Estamos nestas funções, neste caso como ministra da Habitação, para cumprir aquele que é um desígnio e uma responsabilidade enquanto Governo para com as pessoas. Não devíamos desviar o foco e achar que dentro do Governo e dentro do trabalho há sequer outras questões que estejam em cima da mesa.
Nem fazemos serviço nenhum em termos aqui a ponderar se há maior ou menor pressão no nosso trabalho. Somos um Governo, somos um coletivo, trabalhamos todos para o mesmo fim e neste caso é um bom exemplo em como o trabalho de equipa foi feito para apresentar este pacote de medidas.