Papa recebe estola que é símbolo de resistência dos cristãos iraquianos
05-03-2021 - 15:13
 • Filipe d'Avillez

A estola foi feita pelas mulheres de Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque. Foi totalmente abandonada em 2014 e ocupada pelo Estado Islâmico, mas aos poucos as famílias regressam às suas casas.

O Papa Francisco recebeu esta sexta-feira uma estola como presente da comunidade católica do Iraque, no final do seu encontro com patriarcas, bispos, religiosos, seminaristas e catequistas, na catedral de Nossa Senhora da Salvação, em Bagdad.

Mais do que um mero presente, a estola que o Papa recebeu é um símbolo da resistência e persistência da comunidade cristã no Iraque, que tem sido vítima de duras perseguições ao longo dos últimos anos.

Segundo explica o padre Yako Ammar, numa mensagem divulgada pela organização Ajuda à Igreja que Sofre, a estola foi fabricada à mão, segundo as tradições antigas, por mulheres da cidade de Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque.

Em 2014 todos os cristãos fugiram de Qaraqosh diante da ameaça do Estado Islâmico, que acabou por ocupar a cidade. As igrejas e outros símbolos do património cristão foram danificados e as cruzes de uma igreja em particular, de Al-Tahera, foram removidas.

Segundo o padre Ammar, a estola foi feita à mão por Khaya Bakter, um artesão local, usando as cores tradicionais de Qaraqosh, preto e roxo. Depois foi decorado por Gorjia Kapo, que fugiu em 2014 mas optou por regressar recentemente à sua cidade natal.

“De um lado está o Pai Nosso, na nossa língua, o siríaco, que deriva do aramaico, a língua falada por Jesus. Do outro lado está a Avé Maria”, diz o padre Ammar, que desenhou a estola.

“Em ambas as pontas estão cruzes, que são as cruzes da igreja de Al-Tahera, as mesmas que se encontravam dentro daa igreja e que foram destruídas durante a ocupação do Estado Islâmico. Agora elas simbolizam uma nova vida”, explica o sacerdote.

“A estola é um ornamento muito simbólico para nós, os padres. A Gorija também incluiu o pão e o vinho, na decoração, como símbolo do mistério eucarístico.”

Juntamente com esta estola o padre Ammar ofereceu outra, desta feita fabricada por uma cristã de Qaraqosh que acabou por emigrar para o Canadá depois de 2014. A ideia é que ambas estas realidades, dos que fugiram e dos que ficaram, sejam apresentadas ao Papa durante a sua visita.

O Papa vai estar em Qaraqosh durante a sua visita, no domingo, para rezar com a comunidade local.

Esta é a primeira visita de um Papa ao Iraque e Francisco fez questão de vir, apesar de todos os perigos e da pandemia de Covid-19 que assola o país.