Primeira-ministra sueca demite-se após ascensão da extrema-direita
15-09-2022 - 17:33
 • Marta Pedreira Mixão Renascença com Lusa

O recém-eleito Parlamento sueco tem agendada a sua primeira sessão plenária para 26 de setembro.

O bloco de centro-esquerda perdeu a maioria para o bloco de direita, que obteve mais três lugares no Parlamento com o crescimento do partido de extrema-direita Democratas da Suécia.

Depois de assumir a derrota, Magdalena Andersson reuniu-se com Andreas Norlen, o presidente do Riksdag (parlamento sueco), de 349 lugares, para o informar formalmente do abandono da chefia do executivo sueco. Andersson manter-se-á em gestão corrente até que um novo Governo seja formado. Norlen já aceitou a sua demissão.

O presidente do parlamento sueco disse que iniciará negociações com os líderes partidários após o fim de semana. Espera-se que peça ao líder do partido de centro-direita Moderados, Ulf Kristersson, que tente formar uma coligação governamental.

Na sequência das eleições legislativas do passado domingo, o bloco de direita tem 176 assentos parlamentares, ao passo que o bloco de centro-esquerda com os social-democratas tem 173.

Apesar de os cidadãos suecos terem ido às urnas no domingo, a votação foi tão renhida que só na quarta-feira à noite, quando 99,9% dos votos tinham sido contados, é que o líder do partido de extrema-direita Democratas da Suécia (SD), Jimmie Akesson, declarou a vitória da coligação formada pelos quatro partidos de direita.

Os Democratas da Suécia obtiveram mais votos do que os Moderados, mas não se considera provável que liderem o próximo Governo do país, porque os outros três partidos do bloco vencedor das legislativas são contra e acordaram, antes do escrutínio, que deveria ser Ulf Kristersson o candidato a esse cargo.

Mais de um em cada cinco suecos votou a favor do partido radical anti-imigração Democratas da Suécia nas eleições de domingo.

De acordo com os últimos números eleitorais, o SD ganhou 20,6% dos votos expressos no domingo, tornando-se assim o maior de um bloco de partidos de direita agora com uma maioria colectiva no parlamento.

Agora que o partido conquistou mais lugares em relação aos outros partidos de direita, e ao tornar-se no segundo maior partido com assento parlamentar, espera-se que exerça um peso significativo, qualquer que seja a fórmula do próximo Governo.

"Isto é dramático dado que só entraram no parlamento em 2010", disse Johan Martinsson, investigador político da Universidade de Gotemburgo, à BBC.

"A Suécia costumava ter um sistema de partidos políticos extremamente estável e previsível. Três eleições mais tarde - e são o segundo maior partido", acrescenta.

Desde que entrou no parlamento em 2010, o partido aumentou a sua quota-parte em três eleições sucessivas, lançando o debate sobre as alegais mudanças ideológicas do partido.

O partido foi formado em 1988 assumindo-se como neonazi, apesar de, entretanto, ter alegadamente atenuado algumas das suas posições, pois Jimmie Akesson, que assumiu o poder em 2005, teria adotado uma política de "tolerância zero" contra o racismo e o extremismo há dez anos - e em 2015 até suspendeu toda a ala juvenil do partido devido às suas ligações com a extrema-direita.

O partido também realizou um "rebranding", tendo substituído o seu logótipo por um de aspeto mais inocente e eliminando o seu slogan "Keep Sweden Swedish".

Contudo, as mudanças não foram suficientes e mantém-se a opinião de que o partido representa uma ameaça para os grupos minoritários da Suécia. Willie Silberstein, presidente do Comité contra o anti-semitismo da Suécia, explica que "o Comité tem um problema com partidos que foram fundados por nazis. Isto não é uma opinião - é um facto", disse em declarações BBC. "Se um partido está tão cheio de pessoas que precisam de ser excluídas por serem nazis - isso diz algo sobre esse partido".

Silberstein aponta ainda um estudo publicado no mês passado pelo grupo de investigação sueco Acta Publica que afirmava ter identificado que 289 políticos dos maiores partidos que tinham expressado opiniões que poderiam ser consideradas racistas ou até mesmo nazis - a maioria deles, 214 eram membros do SD.

Os SD apresentaram-se em campanha com um discurso centrado nas promessas de combate ao crime e de imposição de fortes restrições à imigração.

"Assusta-me que eles possam ter uma grande influência na política sueca", afirma Silberstein.

Depois de apresentar a demissão, a primeira-ministra demissionária acrescentou ainda que está disposta a trabalhar com todos os partidos, exceto com os Democratas da Suécia.

Após a sua reunião de 25 minutos com Norlen, Magdalena Andersson declarou: "Se os Moderados tiverem outras ideias e quiserem cooperar comigo, em vez de com os Democratas da Suécia, a minha porta estará aberta".

Andersson, que lidera o maior partido do país, demitiu-se menos de um ano depois de se ter tornado a primeira mulher a chefiar um Governo na Suécia.

A sua nomeação como primeira-ministra representou um marco histórico para a Suécia, encarada, durante décadas, como um dos países mais progressistas da Europa no que diz respeito a igualdade de género, mas que nunca antes tinha tido uma mulher a ocupar o mais alto cargo político.

Magdalena Andersson protagonizou o histórico pedido de adesão da Suécia à NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, o bloco de defesa ocidental) após a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano.

O recém-eleito parlamento sueco tem agendada a sua primeira sessão plenária para 26 de setembro.