A dívida e o bom senso
22-03-2017 - 06:29

PS e BE concordam em que não haja reestruturação unilateral da dívida pública.

O Estado português vai precisar ainda durante longos anos de pedir dinheiro emprestado. Porque tem uma dívida enorme (130% do PIB), cujos juros e amortizações terão de ser pagos. Ou seja, precisa de crédito para pagar crédito.

É uma situação incómoda? É, com certeza. Mas parece que se critica menos quem nos conduziu a tal sarilho – o governo de Sócrates – do que quem, depois, teve e tem que enfrentar este fardo.

Não pagamos – é a falsa solução de alguma extrema-esquerda. E também foi de algum PS: lembremos que Pedro Nuno Santos (hoje Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares) afirmou em Dezembro de 2011 que tínhamos na mão a “bomba atómica” – não pagar; a simples ameaça poria os banqueiros credores a tremer (muitos deles seriam, aliás, bancos sediados em Portugal e que detém dívida pública nacional).

Mas estar no poder ajuda a pôr de lado infantilidades. Como seria uma reestruturação unilateral da dívida: iríamos, depois, pedir mais dinheiro emprestado aos credores que só parcialmente pagávamos...

Fechar-nos-iam, então, a porta na cara, como fecharam durante mais de uma dúzia de anos à Argentina. E como seriam então pagos os salários da função pública e feitas outras despesas essenciais?

António Costa percebeu o problema, insistindo em que uma eventual reestruturação da dívida pública portuguesa não poderia ser unilateral e deveria estar enquadrada numa resposta europeia integrada.

Segundo o “Público”, o grupo de trabalho PS/BE sobre este tema encaminha-se para a posição de A. Costa, o que é positivo. E não afasta aquilo que desde o governo anterior tem vindo a ser feito: trocar dívida cara e a médio prazo por dívida a juros e prazos mais favoráveis.

De facto, não há nada como ser governo para ganhar realismo.