O pneumologista Filipe Froes considera que o número de jogadores de futebol infetados pelo novo coronavírus em Portugal está dentro do que era esperado.
“Tivemos alguns casos iniciais nos rastreios efetuados, que revelam menos de 1% de casos positivos, perfeitamente dentro do expetável e previsível”, diz o especialista chamado a integrar o núcleo restrito de consultores da Liga de Clubes para enfrentar a epidemia de Covid-19 em Portugal.
“O objetivo da realização destes testes era precisamente a sua deteção precoce, de maneira a proteger todos os outros jogadores e permitir cada vez mais trabalhar com a máxima segurança”, faz notar Filipe Froes, numa entrevista à Renascença, na qual faz um balanço “muito positivo” da forma como os clubes têm respondido às exigências impostas.
A escassos oito dias do regresso da competição, a 3 de junho, o pneumologista do Centro Hospitalar Lisboa Norte elogia, em particular, “os departamentos médicos e os jogadores, que tiveram um comportamento exemplar de adesão à regulamentação da Direção-Geral da Saúde, dando um exemplo às outras modalidades, e de cidadania e responsabilidade, a nível nacional”.
Maiores riscos de lesão. Os mesmos riscos de “doping”
A ponta final da época futebolística será um teste à capacidade física dos jogadores; muitos deles já estariam de férias nesta altura.
Confrontado pela Renascença sobre o que deveria ser a atuação da Autoridade Antidopagem neste contexto, Filipe Froes entende que “os riscos são os mesmos que em qualquer altura”. O que há, sim, é um risco mais significativo de os atletas se lesionarem.
“Os jogadores, nesta fase, têm as exigências de treinos específicos muito grandes, porque vão retomar a atividade em condições diferentes do habitual e têm maior risco de se lesionar. Foi o que verificámos com a retoma do campeonato alemão. Há um aumento da preparação e de adaptação a este esforço acrescido, da parte dos jogadores e dos departamentos médicos”, assinala.
Das restrições ao número de estádios à inclusão de quase todos
Afinal foram poucos os clubes impedidos de jogar a ponta final da época nos seus estádios. Estão nesta situação Famalicão, Belenenses SAD (que tem utilizado o Estádio Nacional), Moreirense, Santa Clara e V. Setúbal, que ainda tenta a aprovação do Bonfim.
No início, as recomendações da Direção-Geral da Saúde apontavam para a realização das últimas dez jornadas no menor número possível de estádios. Afinal serão pelo menos 14, incluindo o do Marítimo, no Funchal.
“Portugal é um país que tem regiões autónomas insulares e nós temos de viver com essa realidade”, diz, a propósito, Filipe Froes, que entende ser “benéfico que o país tenha cada vez mais estádios com condições para todo o tipo de jogos. É positivo que a capacidade de oferta em estádios em Portugal seja mais elevada”.
Festejos do título, no momento certo e de forma adequada
Neste regresso da Primeira Liga para disputar as dez jornadas em falta não haverá espetadores nas bancadas. Sendo fácil garantir que não haverá adeptos dentro dos estádios, o mesmo poderá não se aplicar ao exterior.
Como será, por exemplo, a 26 de julho, ou antes, quando for conhecido o campeão e turbas de adeptos se começarem a dirigir para os Aliados, no Porto, ou para o Marquês, em Lisboa?
“Cada coisa na altura certa”, responde Filipe Froes, convicto de que “nessa altura, provavelmente, os clubes encontrarão as maneiras certas de festejar os respetivos resultados”.
O mesmo considera relativamente à concentração de adeptos junto aos estádios, ou em bares, para seguir os jogos pela televisão. “Com base nos princípios de saúde pública, nesta fase são de evitar os aglomeramentos com maior risco de transmissão. As medidas de precaução aplicam-se para qualquer evento e o futebol não pretende ser exceção”, concretiza.
Futebol de formação e não profissional pode regressar, dentro da nova realidade
Na opinião de Filipe Froes, “a retoma do futebol da Primeira Liga é precisamente para transmitir às pessoas que, com as devidas precauções e adaptações no plano da saúde pública, para proteger a saúde individual, tudo é possível de ser feito, dentro desta nova realidade”.
A declaração surge em resposta a uma pergunta da Renascença sobre as condições necessárias para que todos os clubes e atletas, sem exceção, possam ir retomando a sua atividade.
O consultor clínico da Liga de Clubes realça, por fim, "o papel exemplar da DGS e das autoridades de saúde em Portugal, que compreenderam a especificidade e a utilização do futebol como exemplo de retoma em segurança para todas as atividades”.
A Primeira Liga será retomada a 3 de junho e vai prolongar-se até 26 de julho. Há dez jornadas por realizar. O FC Porto lidera a classificação, com um ponto de vantagem sobre o Benfica.