Maria de Belém. A noite eleitoral que nunca chegou a aquecer
25-01-2016 - 01:17
 • Cristina Nascimento , Conceição Sampaio (fotos)

Desolação, tristeza, silêncio. Derrota de Maria de Belém foi recebida assim. Mas há esperança: é "uma pessoa que pode ser muito útil para Portugal".

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Os resultados oficiais ainda não tinham sido todos apurados, o relógio pouco passava das 21h00 e já a sala de apoiantes de Maria de Belém estava vazia. Maria de Fátima Jorge, amiga de faculdade da candidata, é o espelho dos apoiantes. "É uma pena este resultado", diz. Tem a tristeza estampada no rosto.

A sala na sede de campanha escolhida para acolher quem quis vir apoiar a antiga ministra da Saúde não era grande, mas chegou para acolher cerca de três dezenas de pessoas, entre as quais meia dúzia de caras conhecidas: João Soares, ministro da Cultura, Marçal Grilo, antigo ministro da Educação, João Proença, Manuel Alegre e também o padre Vítor Melícias.

"Vou como vim, um grande amigo de Maria de Belém e da família que partilha todas as horas", disse Vítor Melícias à Renascença. Na hora da derrota, não poupa nos elogios à socialista: "Em qualquer sítio para onde for chamada continuará a ser uma grande mulher e uma servidora das nobres causas, nos valores mais elevados, uma pessoa que pode ser muito útil para Portugal".

À hora das projecções, que punham Maria de Belém no quarto lugar, atrás de Marisa Matias, a sala ficou impávida. Poucos olhavam sequer para as televisões e os que olhavam não esboçaram qualquer reacção.

O primeiro sinal de alguma emoção chegou minutos mais tarde quando Vera Jardim, porta-voz da candidatura, falou. Reconheceu que "os resultados que se perspectivam” deixam a candidatura “muito aquém do que se pretendia”. Ainda assim, terminou com uma nota (minimamente) positiva: “Aguardemos serenamente o desenrolar dos resultados. Uma coisa é certa: foi uma campanha com dignidade e pela dignidade.” Ouviram-se os primeiros aplausos da noite.

Maria de Belém não tardou a reconhecer a derrota. "Saúdo o candidato Marcelo Rebelo de Sousa, novo Presidente da República.” Foi assim a declaração final da candidata. Uma declaração sem direito a perguntas dos jornalistas.

O que faltou de esclarecimentos, sobrou de aplausos e, embora a hora não fosse de festa, não faltou o ramo de flores. Maria Leonor, uma das apoiantes que desde cedo esteve na sala, já trazia o ramo de flores preparado para a candidata. Questionamos a razão do “bouquet”. "São flores para uma grande senhora", limitou-se a dizer, depois de deixar claro que não queria falar sobre os números desta noite.

Voltamos a Maria de Fátima Jorge. "Antes de mais acho lamentável esta abstenção. É uma tristeza este resultado, uma pena, depois de tudo o que [Maria de Belém] deu a Portugal", continua, acrescentando que a candidata é "uma mulher fora de série".

De cerrada pronúncia do Norte, Maria de Fátima teorizava: a elevada abstenção revela um desalento mais profundo. "Eu não pertenço a nenhum partido, não vale a pena. Não que os políticos sejam todos maus… Se calhar é o que os portugueses merecem.”