​“Espero que o Presidente Biden não se deixe capturar pelos movimentos radicais”
24-01-2021 - 14:29
 • Henrique Cunha

Jorge Cunha, professor de Teologia Moral da Universidade Católica Portuguesa, espera que “a evidente sintonia entre Biden e o Papa” possa ajudar a desanuviar tensões criadas durante a administração Trump.

A nova administração dos Estados Unidos pode “ajudar a desanuviar certas tensões criadas no regime anterior”, defende Jorge Cunha, professor de Teologia Moral da Universidade Católica Portuguesa.

Em declarações à Renascença, o docente diz ver no facto de Joe Biden ser o segundo Presidente católico da história dos Estados Unidos uma oportunidade, mas alerta para “a necessidade de não se se deixar capturar pelos movimentos radicais que tentaram condicionar a política do Presidente anterior”.

O sacerdote afirma que os “grupos fraturantes – sobretudo de esquerda – têm a tendência de tentar condicionar a política de uma maneira incoerente”.

O professor do Centro Regional do Porto da Universidade Católica espera, por outro lado, que “a evidente sintonia entre Biden e o Papa Francisco” possa ajudar “a desanuviar certas tensões que foram criadas no regime anterior” de Donald Trump.

Como olha para a nova administração norte-americana e para o facto de Joe Biden ser o segundo Presidente católico na história dos Estados Unidos?

A moral católica é a moral mais tolerante de todas as morais cristãs. Os Estados Unidos assentam numa mundividência um pouco radical, própria do protestantismo, sem qualquer aspeto pejorativo. O protestantismo tem sempre uma moral muito mais radical, muito mais convicta, e dessa convicção um pouco exagerada decorre depois a crispação de posições, tanto das de esquerda como das de direita que se confrontam violentamente devido a um excesso de convicção que há na moral protestante.

Portanto, se a moral católica pudesse ter um influxo através do Presidente Biden na descrispação da política americana, no encontro daquele grande país coma sua velha tradição, com a sua tradição de liberdade e de respeito pelas instituições - que de facto nunca esteve em causa para mim, nesta transição dos dois presidentes - isso seria uma coisa de grande importância para o mundo e, portanto, seria um contributo do catolicismo para a ordenação correta do nosso mundo. Seria uma coisa ótima, isso.

Pode explicar melhor porque é que do seu ponto de vista nunca esteve em causa a transição? E o que se pode esperar desta mudança?

Só o simples facto de haver uma mudança vai trazer uma novidade e uma descrispação das instituições e um estilo político diferente. Espero que o Presidente Biden não se deixe capturar pelos movimentos radicais que tentaram condicionar a política do Presidente anterior e que noutro sentido vão tentar condicionar a política do Presidente Biden.

Sobretudo, os grupos fraturantes de esquerda que condicionam a política de uma maneira incoerente, porque as coisas mudam na medida em que muda a cultura e muda a sensibilidade, e a sensibilidade é que condiciona as leis e não o contrário. E, às vezes, há a tendência dos grupos de linha fraturante, dos grupos idealistas da sociedade de condicionarem a coisa num certo sentido que é mau para o entendimento e para o funcionamento das nossas sociedades.

E o que podemos esperar da nova administração norte-americana na sua relação com a Igreja e em particular com o Papa Francisco, tendo em consideração que a relação mantida pela anterior administração com o Vaticano não foi sempre a melhor?



Pois, até nesse aspeto também espero que haja da parte da administração americana um respeito pela tolerância e pela tolerância e pela liberdade religiosa. Há uma evidente sintonia deste Presidente com o Papa Francisco, que não deve ser aproveitada no mau sentido; nesse sentido de subscrever ideias de que Biden e o Papa têm uma agenda deste modo ou daquele.

Não, eu não acho que é isso. O Papa Francisco tem uma agenda de que o mundo possa progredir no sentido do respeito, da justiça, da configuração da política como um elemento essencial da nossa vida associada, mas não o único.

E portanto, é nesse sentido que a fé católica e a moral católica dão um contributo: não no sentido da condução concreta da política, mas no sentido da inspiração da política. Eu creio que a confluência do Presidente Biden com o Papa Francisco será benéfica para o nosso mundo e para desanuviar certas tensões que foram criadas no regime anterior. Não tenho dúvidas que será benéfica e que o Presidente e o Papa terão o cuidado de não se deixar capturar pelas agendas, neste caso da extrema esquerda, que tentarão de certo modo apropriar-se desse caminho.