Até onde deve ir a intervenção de um Papa emérito?
15-01-2020 - 21:38

Quando resignou, o Papa emérito prometeu que não se iria intrometer no ministério do seu sucessor. Não é credível que tenha alinhado numa ação que mina o terreno onde se edifica a Igreja.

Até onde deve ir a intervenção de um Papa emérito?

A questão foi certamente avaliada por Bento XVI no discernimento que fez antes de tomar a decisão de resignar.

Conhecedor do incómodo causado por alguns bispos eméritos que, apesar de resignarem, se mantêm ativos na mesma diocese, nem sempre “na mesma linha pastoral” do seu sucessor, Ratzinger anunciou que não seria assim com ele.

Na sua última audiência geral de 27 de fevereiro, na Praça de São Pedro, garantiu que, “não haverá mais um regresso à vida pública” e que a sua decisão de “renunciar ao exercício ativo do ministério” implicaria “não voltar à vida pública, a uma vida de viagens, encontros, receções, conferências, etc.”

E disse mais. “Não abandono a cruz, mas permaneço de forma nova junto do Senhor Crucificado. Deixo de trazer a potestade do ofício em prol do governo da Igreja, mas no serviço da oração permaneço, por assim dizer, no recinto de São Pedro”.

É difícil, por isso, conceber que um Ratzinger, cada vez mais débil a poucos meses de cumprir 93 anos (como se pode constatar no mais recente documentário de um canal da TV da Baviera) tenha alinhado numa estratégia lobística para pôr em cheque o Papa Francisco.

Bento XVI pode até discordar do atual pontífice sobre a questão fundamental do celibato sacerdotal, mas nunca alinharia numa ação desta envergadura, que veio minar ainda mais o terreno já tão massacrado onde, entre trigo e joio, se edifica a Igreja.