Morreu esta quarta-feira, em Lisboa, o padre Vítor Feytor Pinto, que esteve ligado durante grande parte da sua vida à Pastoral da Saúde.
Aos 89 anos, o sacerdote já estava há vários meses a lidar com uma saúde cada vez mais frágil, apesar de ter conseguido ultrapassar uma infeção com Covid-19 que obrigou ao internamento e, um ano antes, uma septicémia.
Depois de uma indisposição sentida na terça-feira, dia 5 de outubro, foi transportado da Casa Sacerdotal para o hospital de Lisboa, onde veio a morrer durante a noite.
Durante muitos anos foi colaborador do Grupo Renascença e na Rádio Sim teve um espaço onde respondia a dúvidas e questões ligadas à fé.
Foi durante vários anos responsável pela paróquia de Campo Grande, no Patriarcado de Lisboa, mas era conhecido também por um forte envolvimento em questões de saúde.
Nesta qualidade foi Assistente Nacional e Diocesano da Associação Católica de Enfermeiros e Profissionais de Saúde (ACEPS), Assistente Diocesano dos Médicos Católicos e Assistente Diocesano da Associação Mundial da Federação dos Médicos Católicos (AMCP), foi consultor do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde e coordenador das Capelanias Hospitalares na Europa, entre outros, para além de ter sido fundador do Movimento de Defesa da Vida, em Lisboa. Esteve também muito envolvido no movimento das Equipas de Nossa Senhora.
Em 1982 foi o principal responsável pela organização da visita do Papa João Paulo II a Portugal, que viria mais tarde a descrever como "os quatro dias mais felizes" da sua vida.
Em 1992 o então primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva desafiou-o para ser alto-comissário do Projeto Vida, uma iniciativa integrada no combate à toxicodependência, cargo que desempenhou durante cinco anos. Durante três desses anos foi presidente do conselho de administração do Observatóro Europeu da Droga e da Toxicodependência.
Foi ainda um dos principais responsáveis pelo projeto Mater Timor, que envolveu o financiamento e a construção de uma maternidade em Timor Leste.
Em entrevista à Agência Ecclesia, em março de 2020, falou da importância que teve na sua vida o Concílio Vaticano II. "Toda a Teologia do Concílio era para mim uma extraordinária revolução e uma verdadeira revelação de Deus e de Jesus Cristo. Por isso fui apaixonado pelo Concílio e o Concílio moldou a minha vida e formou o meu sacerdócio."
O Papa Bento XVI concedeu-lhe o título de Monsenhor, mas na mesma entrevista à Ecclesia mostrou-se agradecido, dizendo contudo que preferia ser tratado apenas por padre Vítor.
O padre Vítor Feytor Pinto nasceu a 6 de março de 1932. Disse aos pais que queria ser padre quando ainda tinha só 10 anos e nessa altura entrou no seminário, onde fez o percurso todo até à sua ordenação em 1955, na diocese da Guarda. Foi no Patriarcado de Lisboa, contudo, que passou a maior parte da sua vida sacerdotal.
Questionado pela Ecclesia sobre as memórias do dia da sua ordenação, recorda um episódio curiosos. "Levantei-me às 6 da manhã e, curiosamente, na véspera tinha estado a preparar-me na oração, e estava uma manhã lindíssima, a desafiar o sol que ia chegar. Acordei com uma pomba a picar o vidro da minha janela. Olhei e pensei: de facto o Espírito Santo está a querer chegar nesta hora. Recordo profundamente. Olhei e vi aquela pomba depois a esvoaçar."
O amigo, o sacerdote e o inovador
D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e presidente do Conselho de Administração do Grupo Renascença Multimédia, lembra no padre Vítor Feytor Pinto uma "referência maior" para a Igreja em Portugal.
"É uma notícia triste que nos chega esta manhã da morte de Monsenhor Feytor Pinto, um momento de oração, de nos inclinarmos em homangem a esta figura maior do presbitério da Guarda, que há muitas décadas serve a Igreja em Portugal com a sua presença no Patriarcado de Lisboa. É uma figura maior de referência maior também na área da Pastoral da Saúde, da bioética, tanto em Portugal como na Santa Sé", diz.
"Foi sempre, durante muitos anos, uma referência dos portugueses, um sorriso aberto, em áreas particularmente sensíveis de sofrimento, da doença, da vida e da morte, e por isso é um dia em que temos a certeza que ganhámos no céu uma referência maior, mas também sentimos desde já uma perda naquilo que é o convívio do dia a dia nesta vida terrena."
"Certamente a comunidade do Campo Grande, onde serviu até mais recentemente, viverá também estas horas e este dia com particular sentido e sofrimento, mas damos graças a Deus acima de tudo pela vida deste homem, deste sacerdote, que foi referência maior nesta área tão especial da saúde e que tanta vida, tanta alegria e tanta felicidade espalhou à sua volta", conclui D. Américo.
Graça Mira Delgado foi durante muitos anos presidente do Movimento de Defesa da Vida, uma organização que intervém em defesa dos valores da vida humana e no acompanhamento de famílias em dificuldades e que foi fundada pelo padre Vítor Feytor Pinto.
Em declarações à Renascença recorda "um grande amigo e um grande sacerdote" que marcou pelo menos três gerações da sua família, como de tantas outras. "Deixou a sua marca em várias gerações, começando pela minha e até hoje. Os meus filhos e netos foram casados e batizados por ele."
Em termos pastorais Graça Mira Delgado sublinha uma "capacidade de trabalho incrível. Nunca dizia que não a qualquer coisa que lhe pediam. Eu e o meu marido tivemos a graça de trabalhar com ele durante muitos anos nas Equipas de Nossa Senhora, onde teve cargos de nível nacional. E teve um papel fundamental na fundação fo Movimento de Defesa da Vida, que ainda hoje trabalha."
"Ele sofreu muito, esteve muito doente durante muito tempo e agora está a descansar", conclui.
O padre José Manuel Pereira de Almeida, coordenador nacional da Pastoral da Saúde, considera o padre Vítor Feytor-Pinto um "inovador para o seu tempo" que "rasgou horizontes", ao fazer a transformação "da pastoral do doente para a pastoral da Saúde", disse à agência Lusa o atual responsável pela Pastoral da Saúde em Portugal.
"Estava já muito fragilizado" pelos problemas de saúde, "mas deu um exemplo, vivendo o seu sofrimento com otimismo". acrescentou o padre José Manuel Pereira de Almeida, destacando também a grande experiência que Feytor Pinto "adquiriu como capelão hospitalar".
[Notícia atualizada às 10h23]