O sempre adiado caminho de ferro
22-11-2021 - 06:24

Na UE o comboio faz cada vez mais concorrência ao avião. Em Portugal o caminho de ferro regrediu nas últimas décadas, ao contrário do que aconteceu com as autoestradas.

Na UE a preocupação com o clima está a tornar atrativo o caminho de ferro, muito menos poluente do que os aviões e o transporte por autocarro. Calcula-se que numa distância até 800 quilómetros o comboio bate o avião.

Não são apenas motivos ecológicos que aconselham o caminho de ferro. O comboio permite partir de uma estação no meio da cidade e sair numa outra estação também localizada num centro urbano. É bem mais cómodo do que o tempo que se perde nos aeroportos distantes das cidades e na demora de chegar a eles.

Em 2007 abriu uma linha férrea de alta velocidade entre Roma e Milão. O tráfego aéreo entre as duas cidades é hoje menos de metade do que era quando não existia essa linha férrea.

As ligações internacionais por caminho de ferro na Europa têm sido travadas pelas diferentes características das vias nacionais. Não é só a bitola (distância entre carris) que varia de país para país, são outras diferenças, desde logo nas ligações eléctricas. E são precisos grandes investimentos para, por exemplo, abrir túneis.

Em Portugal o caminho de ferro regrediu nas últimas décadas. O PS criticou a “política do betão”, ou seja, a aposta nas autoestradas, no tempo de Cavaco Silva primeiro-ministro. Mas o PS, quando foi governo com J. Sócrates, levou a um manifesto exagero a rede nacional de autoestradas.

Um exemplo da situação absurda do caminho de ferro no país: em 1986 havia 20 comboios diários a atravessar a fronteira com Espanha (dez em cada sentido). Hoje só há três.

Com A. Costa primeiro-ministro e a “gerigonça” multiplicaram-se as queixas dos utentes dos comboios, na Linha do Oeste e no Algarve sobretudo. Com Pedro Nuno Santos ministro das Infraestruturas pensou-se que o caminho de ferro nacional iria finalmente sair do torpor em que caiu nas últimas décadas. Mas recentes notícias sobre o setor são tudo menos animadoras.

A modernização das linhas de Cascais e do Douro está adiada. A sinalização da linha da Beira Alta, que deveria ter sido concluída em dezembro de 2019, não avança. E o chumbo do Orçamento complicou a vida à CP, pondo em dúvida a prevista aquisição de comboios. Etc.

Na solene inauguração do primeiro troço de via férrea em Portugal, entre Lisboa e o Carregado, em 1856, uma carruagem transportando ilustres convidados ficou a meio do percurso. Um fiasco embaraçoso. Começou mal o caminho de ferro no nosso país e parece ainda não ter encontrado melhores dias.