Num jantar no Palácio da Bolsa no Porto com empresários, economistas e gestores, o presidente da CIP-Confederação Empresarial de Portugal lembrou que "quem cria emprego e riqueza" são os empresários que "continuam a ser mal vistos, diabolizados, como mal feitores". Por isso, exige uma outra atitude para a dignificação dos empresários.
António Saraiva promete "manter esse combate" e garante que não vai ceder às pressões da esquerda parlamentar que "só aposta em reverter".
Perante empresários, gestores e também políticos - o jantar contou com a presença dos eurodeputados Paulo Rangel do PSD e Nuno Melo do CDS - Saraiva explicou porque "deixou de ter credibilidade nos acordos de concertação social".
"O Governo tem vindo a falhar nos compromissos que celebra connosco e apenas se lembrou do aumento do salário mínimo até 2019 para 600 euros". Depois, numa alusão mais política, o presidente da CIP acusou o Executivo de tentar "desviar da concertação social para o Parlamento". Ainda assim, promete continuar a defender o setor nas reuniões e faz um apelo à união entre empresas e empresários.
Diz ser "urgente" uma coesão e ao mesmo tempo critica o excesso de associações, enquanto em Espanha "há uma grande confederação - a CEOE - e o mesmo se passa em Itália" . E é por isso que nesses países " nenhum Governo se atreve a legislar ou a alterar o que quer que seja sem ouvir as confederações patronais". Já em Portugal, conclui Saraiva "temos seis confederações patronais, temos mais de 700 associações, e isto divide-nos... enfraquece-nos".
Numa intervenção muito critica em relação à falta de financiamento das empresas e sobretudo quanto à carga fiscal; o patrão dos patrões defendeu a necessidade de se "ter mais ambição", porque "se compararmos o nosso crescimento com o de outros países da União Europeia constatamos que este crescimento de 2,7 do ano passado não é suficiente. Sabemos que se não crescermos no mínimo a 3% ao ano não resolvemos os nossos problemas".
Quanto ao financiamento da economia e das empresas, lamenta que a Instituição Financeira de Desenvolvimento - vulgarmente denominada de Banco de Fomento - continue a defraudar as espectativas, e lembra que "de 2011 até agora, a banca retirou da economia 42 mil milhões de euros".
"Não vivemos paraíso"
O anfitrião da noite, Nuno Botelho, que viu serem aprovadas as contas de mais um ano de exercício, por sinal "os melhores resultados e o melhor desempenho desde o início do século" começou por lembrar que "a saúde operacional, económica e financeira da Associação Comercial do Porto é um marco de independência e uma garantia de liberdade".
Depois, o presidente ACP da falou da importância do Norte de Portugal no contexto das exportações nacionais, recordando que a região "é responsável por 50% das exportações" e da sua "população ativa altamente qualificada". Botelho reconhece, contudo, que o "Norte tem vindo a criar emprego, abaixo da média nacional", mas assegura que "é quase única e exclusivamente criado no sector privado da economia".
Na sua intervenção, em que não faltou uma saudação especial ao convidado para o debate, Nuno Botelho deixou também um alerta. "Até pode parecer que está tudo bem, que somos um país rico, um país justo e moderno" mas "não é verdade, não vivemos no paraíso". Nuno Botelho diz que "para a economia funcionar e crescer precisamos de infraestruturas adequadas, estabilidade jurídica, fiscal e laboral e ainda equilíbrio nacional".
Nesta intervenção lembra que Portugal e o Norte, em particular, têm problemas estruturais graves aos quais é urgente dar resposta, pois "a ausência prolongada e o aflito adiamento de investimento publico só tem vindo a agravar esses problemas". Aproveita para deixar dois exemplos concretos dessa falta de investimento: O Hospital de S. João do Porto e o arranque das obras de alargamento do Porto de Leixões.
Temos "um Estado desorganizado, injusto que não cuida do que é seu" e que "é um devorador de recurso". O mesmo responsável lembra que a "carga fiscal portuguesa se situou em 2017 nos 37%, o valor mais elevado desde 1995, e dos mais altos da União Europeia", para concluir que " isto não é uma carga fiscal, isto é um autântico saque fiscal a que não correspondem sequer serviços públicos adequados e competentes e que asfixiam hoje as nossas empresas".