Falta de professores. Informática é a disciplina mais castigada
24-02-2020 - 13:00
 • Manuela Pires

Em finais de janeiro deste ano, quatro meses depois do início das aulas, havia ainda 38 horários por preencher, o correspondente a 200 professores de Informática em falta nas escolas. Para resolver o problema, o Ministério da Educação decidiu que as escolas podiam contratar quem tenha participado numa ação de formação na área das tecnologias.

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César Ferreira, 49 anos, é professor de Informática há 23 anos, na Escola Secundária de Valongo e está a pensar abandonar a profissão.

"O ambiente na escola já não é agradável. Na minha área específica, o mercado está a precisar de profissionais e eu estou a tentar o mercado privado”, conta.

O salário e a falta de progressão na carreira são motivos que o levam a tomar esta decisão, mas não só. "Há mais conflitos, mais burocracias e temos de passar os alunos de ano de qualquer forma independentemente de saberem ou não. Para mim, não dá mais”, desabafa à Renascença.

Se conseguir encontrar outro emprego, César Ferreira será menos um professor de Informática nas escolas e este é, precisamente, o grupo de recrutamento com mais falta de professores. Em finais de Janeiro, quatro meses após o início das aulas, havia ainda 38 horários por preencher, o que significa perto de 200 professores em falta.

No agrupamento de escolas da Alapraia, em São João do Estoril, ainda não houve uma única aula de TIC para os alunos dos segundo e terceiro ciclos.

"Desde o início do ano lectivo que estamos a tentar contratar um professor e ainda não conseguimos. Já desdobramos horários, já pedimos ajuda àas escolas aqui do concelho, mas nada. Os horários continuam a concurso”, desabafa Luis Malta, director do agrupamento de escolas da Alapraia.

A situação alarga-se a outras disciplinas e até a presidente da associação de pais, Susana Catarino, tentou resolver o problema, sem sucesso. “Já tentamos recrutar entre os pais. [ver] Se alguém teria habilitações para dar a disciplina, mas não conseguimos. Agora, vamos escrever ao Ministério da Educação e à DGAE para perceber se existem formas de ultrapassar este problema, porque notamos que a substituição de professores está cada vez mais difícil”, diz.

A situação da Informática é tão preocupante que levou mesmo, no início do ano, o Ministério da Educação a dar novas orientações ás escolas para que pudessem contratar. Podem contratar qualquer professor de outra área disciplinar desde que tenha feito uma ação de formação em Informática.

A presidnete da Associação Nacional dos Professores de Informática, Fernanda Ledesma, critica esta opção porque “desqualifica a profissão e quem investiu na sua formação”.

A docente considera que o Ministério devia criar um regime de exceção para estes professores porque “a situação não se vai resolver em breve”.

Fernanda Ledesma já tinha avisado a tutela para esta situação porque há dez anos houve um corte nas disciplinas e, nessa altura, dois mil professores contratados deixaram de ter lugar nas escolas.

As regiões mais afetadas pela falta de professores são Lisboa e o Algarve. A questão da Informática é a mais preocupante, mas há já falta de professores também noutras disciplinas como o Português, Geografia e Inglês.

Perante este cenário, o ministério da educação diz à Renascença que está a estudar com detalhe as necessidades da falta de professores, estando a ser criado um grupo de trabalho com as universidades para verificar quais são as necessidades de formação procurando aumentar a atratividade da profissão.